segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Run Forrest Run




Todos os dias quando levo a Cacau à rua, logo pela manhã cedinho, rezo para não encontrar pelo caminho vizinhos ou alguém conhecido.

Não obstante, uma vez ou outra, apanho um real susto precisamente por ter todo o caminho livre.

Toca o despertador. Lanço a mão ao calhas, a tentar encontrar o comando (Uso a aparelhagem como despertador - sim, sou do século XX.), e carrego em todos os botões para calar os senhores AC DC, que irromperam a cantar "Youuu, shooke me all night loooong" (Calma, senhores. Sei que sou fabulosa mas, de manhã, fico-me apenas pelo suave chilrear distante dos passarinhos.).

Levanto-me, vou à casa de banho (Esqueço-me de, pelo menos, passar um pouco de água pelo rosto.), enfio umas leggings, um cachecol enorme, gorro e um anorak de penas com capuz.  Como se fosse para Sibéria mas sem soutien (Prerrogativas do Inverno.) e com o pijama por baixo.

Levo cerca de quinze minutos a convencer a Cacau a levantar-se da cama (sofá), entre festas e beijinhos e enfio-lhe também um casaco, que a minha miúda é friorenta e mimada. (Normalmente, aquele lilás, com capuz, que a faz derreter até qualquer brutamontes com coração de pedra.)

Como sempre, seguimos para o jardim em modo automático e tudo o que se desenrola repete-se todos os dias. 

Nem sempre.

Acordo um pouco do transe, olho à volta e não vejo vivalma. 

Nem uma pessoa, nem um carro a passar ou som deles ao longe. Nada.

Até o vento silenciou-se.

O tempo parece ter parado. Não há sons nem movimento. Há uma energia estranha no ar.

Fomos jogadas noutra dimensão? Aconteceu uma calamidade ou um fenómeno estranho?

Nada. Ninguém.

É assim por uma eternidade (Ok, um minuto no máximo mas uma eternidade na escala do pânico.).

Começo a preocupar-me.

Até que lá bem ao fundo vejo alguém a caminhar.

Presto muita atenção e preparo-me para correr um sprint com a Cacau.

Outra pessoa, do lado oposto.

Ó meu deus!

Já bastante acordada, absolutamente em alerta, e com as rugas marcadas da almofada a desaparecerem, tento manter ambas as pessoas debaixo de olho vivo. 

Cada uma, sob cada olho. 

(Depois admirem-se se sou vesga.)

Bem, pelo menos, o caminhar parece normal. 

Quer dizer... Arrastam-se um bocado.

Sim, arrastam-se e caminham lentamente.

Passa um carro.

Depois outro e outro e um autocarro.

Mais pessoas e crianças com mochilas a dirigirem-se para a escola. Conversas, risos, o vento sopra. O barulho das árvores sob o vento.

Alivio.

Inspiro profundamente, chamo a Cacau e viro as costas em direcção a casa.

As únicas dentadinhas que irão acontecer são as que vou dar num belo muffin de chocolate.

Ou dois, depois desta saga toda.

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