sábado, dezembro 21, 2013

Vida, querida,


Bem sei que às vezes só aprendo batendo repetidamente com a cabeça na parede mas se há coisa que aprendi logo à primeira e levei contigo é que um mal nunca vem só.

Escusas de ser esquecida e repetir a lição.

Já tirei vinte valores. Diversas vezes. Pareces o governo com a prova para os professores. Eles já sabem! Já fizeram provas, estágios, etc. Essa prova é estúpida e burra. Mal redigida. Sem nexo! Prova da treta! Abuso de direito é o que é!

Já aprendi!

Não percebeste?

Vai foder-te!

quarta-feira, dezembro 18, 2013

É Natal, não faz mal, todos a gastar papel!

Aqui na família condensado, costumamos perguntar uns aos outros o que querem pelo Natal. Não invalida surpresas mas acabamos por ser práticos. Perguntamos uns aos outros o que acham que o pai, a mãe ou o irmão quer, andamos ali na investigação e, quando o desespero bate à porta, perguntamos directamente ao visado. De todos, sou sempre a mais fácil. Dou logo um leque de coisas que gostaria e faço questão de mencionar várias para que possa ser surpresa.

O meu irmão é sempre uma chatice. O que se dá a uma pessoa que tem tudo e a quem quando pergunto "Queres isto? Queres aquilo?" responde sempre não? Que não sabe, que não quer isto, que não quer aquilo, etc? Que faço uma perseguição desde o dia 1 de Dezembro para conseguir perceber alguma coisa e acabo por só conseguir comprar o presente no dia 23, no meio da loucura, quando está tudo mais do que escolhido? Só falta hackear o email dele ou surrupiar o telemóvel, para ver se encontro pistas. E os presentes que já troquei porque depois lá quase na véspera diz que quer antes outras coisas?

Ainda por cima, vai mudar de casa mas ainda não sabe para onde, pelo que coisas para a casa estão fora de questão. Além do mais, tem tudo. Enfim, uma saga minha gente. Qual Guerra das Estrelas? Qual Senhor dos Anéis? Isto é um Senhor de Toda a Bijutaria e Acessórios.

No entanto, para verem como sou fantástica, já troquei-lhe as voltas e escolhi o presente. 

É que nem sonha. Nem ele nem mais ninguém.

Sou muito boa nesta coisa de escolher os presentes. Deveria fazer negócio disto. Nem sabem o que perdem. Sou uma profissional de pôr olhinhos a brilhar e divirto-me imenso na busca do presente perfeito. Daí, o Natal é só uma época hiper-mega-fixe. Quando há dinheiro.

Vamos a factos. O presente pesa cerca de vinte quilos. Sim, vinte quilos. 

Quando o vi, os meus olhos abriram-se muito e soltei um grito no meio da loja: "É isto!", enquanto dava pulinhos frenéticos de comemoração. Gesticulava, dançava e cantava até que olhei à minha volta. Estavam para aí umas quarentas pessoas dentro da loja. De boca aberta e com um esgar misto de medo/embaraço/pena. Coisa pouca. A próxima vez que lá regressar vou de óculos de sol. Que se lixe! Viver no perigo. Vou mesmo de cara à mostra. Não se apoquentem. A idade dá-me sabedoria para aceitar-me e celebrar-me. Talvez um chapéu de abas largas e um cachecol muito enrolado. O que foi? Está frio!

Naturalmente, ainda não o comprei. Como é que arrastava sozinha aquilo para casa? Não estou a ver como. Preciso de regressar lá com amigos musculados. A ver se ligo ao pessoal dos ginásios. Eles ainda se recordam e gostam muito de mim, certamente. Só tenho de colocar uma almofada no rabo, para não os desiludir. No Ballet, ganham-se pernas até ao pescoço. Rabos redondos gigantes só na musculação.

Adiante, que já me perdi. 

Estou tão feliz! Mesmo feliz! Só quero ver a cara do meu irmão quando o abrir. A próxima missão é conseguir a foto perfeita. Baterá certamente esta:


(Era uma estação de serviço. Homens.)

Lata de leite condensado a caminho para quem adivinhar o que é!

Entretanto



Acabei de receber um email do Ebay a oferecer portes gratuitos para todos os artigos de lingerie e cremes da Victoria Secret.

As cuecas com decoro para consultas médicas vão ter que esperar mais um pouco.

Cantem comigo: Oh happy days...

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Apaguem as luzes



Se há coisa que adoro comprar é roupa interior.

Ok, adoro comprar muita coisa mas roupa interior está definitivamente no top 5.

No entanto, salvas algumas excepções para ocasiões especiais, tento fazê-lo sempre na época de saldos. No final da estação, abasteço as gavetas. Gosto de qualidade mas, neste caso, também de muita quantidade e diversidade. Assim compro peças originalmente mais caras e misturo com marcas mais económicas. Sem falar no facto de ter roupa interior para desporto, roupa interior divertida, sensual, clássica, e uma selecção de cores apropriada para cada ocasião e estado de espírito.

Não sei o que me passou pela cabeça neste Verão.

O que é que passou por esta cabeça? 

As minhas gavetas estão cheias de peças fluorescentes. 

Culpem as modas, culpem a Victoria Secret e aquelas passagens de modelos irreais, culpem o facto de ignorar que não tenho vinte anos, culpem o fantástico que essas cores ficam na minha pele morena.

Um estouro na minha pele morena. Morena. Não nesta pele cor de lula, não neste rabo de baleia branca, que torna o fluorescente numa cor esquisita, agressiva e até repulsiva.

É vestir a roupa e ter as colegas no balneário a semicerrarem os olhos, tal é a violência. É vestir a roupa e eu própria ter espasmos de choque, quando me observo ao espelho.

O que me passou pela cabeça? O que aconteceu ao preto? Ao azul escuro e aos tons socialmente aceitáveis?

Depois, porque é que há anos que não compro um par de cuecas dito normal? daqueles menos reveladores, perfeitos nem que seja só para ir ao médico? Porque é que não me passou pela cabeça que é aborrecido mas é necessário e, cada vez que tenho consulta ou exames marcados, lá ando a puxar os cabelos porque os que são menos decotados são completamente transparentes, os que não são transparentes são muito decotados, e por aí? Nem quando fui operada me lembrei de ir às compras de algo mais apropriado. Não serviu de lição.

Digam-me, porque é que agora, tendo que fazer exames, ir a consultas e o camandro, tenho que chocar a toda a hora os médicos que me assistem? Porque é que as minhas peças mais novas e mais apresentáveis parecem bombas luminosas no meio desta brancura de Inverno? Porquê? Olá, sou a Alexandra e sou uma árvore de Natal néon, super fashion.

Portanto, meus amigos, preciso urgentemente de ir às compras, mesmo de gavetas cheias. É esta a conclusão brilhante. Brilhante é o termo certo. Também se aceitam presentes de Natal interiores com decoro.

Isso ou sou a lula que cintila no escuro, para vos iluminar este caminho invernoso. 

Nada temeis. Apenas usai óculos escuros e evitem olhar directo, para vossa segurança.

Escusado será dizer que os encontros amorosos também estão fora de parte. Ainda vazo uma vista ao moço. Quero lá essa responsabilidade.

domingo, dezembro 15, 2013

O grande C

Há dois meses a sonhar com cancro. Em mim. 

Raios dos sonhos. 

Há quem sonhe com as coisas mais variadas, há quem tenha sonhos felizes, sonhos eróticos, sonhos cómicos. 

Aqui, não me calha disso. 

Os meus sonhos são, por norma, terríveis. Ou sonho com desgraças épicas e tenho de salvar todas as pessoas que adoro. Sonho a sonho, a coisa vai aperfeiçoando e tornando-se mais angustiante, mais pérfida, mais terrível, os cenários mais desoladores. Se sobrevivo ou não, pouco interessa. O objectivo é salvar todos os que me são mais queridos e ainda desconhecidos pelo caminho. Um dia, juro que morro. Chego a ter dores gigantes no peito com os esticões. Acordo em desespero. O meu coração salta de tal forma que acho que parará repentinamente ou morrerá esmagado contra o tecto, tal é a projecção do peito. Ou tenho sonhos premonitórios. Não quero falar sobre isso. Não são coisas boas. Isso aconteceu uma vez. Um vinte a latim na prova global que se cumpriu. De resto, adiante.

Feito isto, lá resolvo marcar exames.

O meu signo é Carneiro e é um signo que vive o presente. Mesmo para quem não vai nestas cantigas, confesso que tenho todos aqueles traços e mais alguns do Gémeos, a malfadada combinação que me calhou na lotaria signo-ascendente. 

Na verdade, não sou pessoa que vive a pensar no futuro. Infelizmente. A minha vida é no agora. Não sei viver de outra forma. Não sei no viver no "e se". Planear os próximos anos é algo que me atormenta. Não sei fazê-lo. Hoje é assim, amanhã será o que será. Sem amarras. Todos os "e se" do futuro atormentam-me e impedem-me de viver e até de ser eu própria. Há uns anos atrás (e quem me segue há muito sabe disso.), tive a mais amarga experiência do AVC da minha mãe, que criou inúmeros"e se's" em torno da saúde e da vida dos meus pais. Não sei viver assim. Bloqueiam-me. Por muito que me digam que não pode ser, que tenho de seguir a minha vida, há uma série de coisas que cortei das minhas possibilidades pessoais e profissionais porque vivo no medo e não quero perdê-los e se for perdê-los, quero aproveitá-los.

Muito se falou acerca da decisão de Angelina Jolie. Da coragem em remover o peito, mesmo não tendo ainda cancro. Na altura, fiquei sem saber o que faria na sua situação. Não raciocinei bem, obviamente. A resposta é muito óbvia. A Angelina não queria ter a vida a prazo. Dependente de exames a prazo, dependente de notícias a prazo, dependente de, por mais cautelosa e vigilante que fosse, poder não chegar a tempo.

Em poucos dias, passei à situação de viver a prazos de seis meses. De seis em seis meses, verificar se a bomba relógio acordou. Corrijo, as várias bombas. Sacaninhas. Não sei quando apareceram. Se há anos ou há dois meses, desde que sonho com elas. Seis meses - um prazo clínico para uma coisa que pode alterar-se em poucas semanas (e ser tarde de mais), em meses, anos ou sequer nunca despoletar.

Ainda não consegui encaixar isto. Sou pessoa de viver com o presente e a preto e branco. Não sei lidar com isto. Não sei viver assim. 

Sou pessoa para morrer de cancro, após uma batalha como ninguém soube travar. Sou pessoa para morrer de cancro, porque simplesmente não quis e decidi não lutar. Porque o aceitei. Sou pessoa para morrer de desgosto de amor. Para morrer de tristeza. Para morrer de qualquer doença com a qual joguei ao braço-de-ferro ou abracei e deixei-me ir. Não sou pessoa para morrer do acaso. Não para morrer no meio da incerteza de algo que, por mais vigilante que esteja, possa apunhalar-me pelas costas. 

Quase que desejo que os resultados tivessem sido outros. Por mais negros que fossem. Provavelmente, isto chocar-vos-á mas preciso tanto de desabafar.

Não sei viver assim. Não quero esperar. Eu sei que ele vai aparecer. Sei. Porque é que tenho de esperar por ele?  Porque não puxar-lhe antes o tapete?

Quero muito, muito arrancar de raiz estas bombas-relógio. Quero muito ser radical mas sequer sei confessá-lo aos mais próximos. As pessoas não sabem aceitar isto. As pessoas não sabem aceitar esta mutilação mas é só no que penso. 

Só penso em, só quero, só desejo arrancar tudo de raiz.

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Se encontrarem por aí uma criança a correr atrás de papagaios e balões, sou eu.


Hoje, será discutido este projecto de lei no Parlamento

Há quem não ligue e não queira saber dos animais mas a verdade é que só assim evoluiremos como humanos, como sociedade, como pessoas melhores. Deixarmos de ser "animais". Quem os tem sabe do que falo. Choca-me tanto que não se perceba o óbvio. Que a tacanhez, a imbecilidade e a burrice prevaleçam.

Nunca mais me esqueço das enormes discussões que tinha com o professor de Biologia sobre aquilo que ensinavam sobre os animais (Acção - reacção, animais irracionais, etc.), hoje completamente posto de parte pela ciência (Ainda assim ignorado na sociedade e no Direito.). 

Discussões terríveis, a terminarem com o professor a apontar que os outros professores estavam errados, que afinal eu não era nada inteligente. Valeram-me a única nota baixa na pauta mas, caramba, com muito orgulho. Que orgulho tive naquela nota. Uma nota alta naquela disciplina seria premiar a ignorância e a teimosia. 

Quantas vezes me perguntaram "Tu sabias bem as respostas, porque puseste as contrárias?" "Porque não são verdade. É tão óbvio que não é verdade que até dá raiva." 

É a minha forma de estar. Esta minha forma de estar já trouxe-me tantos dissabores mas existem verdades tão absolutas que não enxergá-las é criminoso. Décadas passadas e muitos estudos depois para comprovar aquilo que a sensibilidade sempre sabia. 

Como em tudo, o homem julga-se superior a todas as espécies. Cada vez mais a palavra humanidade perde o seu significado. Não porque afinal os animais raciocinam e têm sentimentos mas porque parece que somos nós que não o fazemos e somos desprovidos deles.

Infelizmente, com as alminhas que se sentam naquelas bancadas, tenho muitas dúvidas de que este projecto passará.

Na manhã seguinte a uma perda inestimável para o mundo, é duro ver que não evoluímos, que não assistimos ao desabrochar da humanidade. Neste e em tantos outros assuntos. Tantos. As guerras, o tráfico humano, a injustiça, as discriminações perante a raça, o estatuto social e o género. Sim, a discriminação para com a mulher está longe, muito longe de ser arrumada, se é que alguma vez o será.

Morrem muitos sonhos de criança, mata-se a criança e sem crianças não há esperança. A minha criança era uma sonhadora e crente de primeira. Tenho tantas saudades dela.

domingo, dezembro 01, 2013

Bruxas - aquela coisa do que las hay - Natal e as cornetas. Tudo num só post


Hoje, o meu irmão apareceu cá em casa com uma surpresa.

Basicamente, nas suas palavras, o meu presente de Natal antecipado. Coisa que não estava nada à espera e deixou-me um pouco atarantada.

- Tens duas hipóteses. Ou abres agora ou abres só no Natal.

- Ora mas isso tem lá algum jeito? Sabes como sou curiosa e apareces um mês antes com o presente? Mas... Nem perguntaste o que queria como fazemos todos os anos (Na casa da pradaria, somos muito práticos com estas coisas. Ou dizemos o que queremos ou damos várias ideias.)! Nem pensar!Isto não tem jeito nenhum! Abro só no Natal.

- Pois mas tens de abrir agora porque podes querer trocar e só tens quinze dias para o fazer. (Mentiroso, o pelintra! Tinha até Janeiro para trocar. O que queria era mesmo que abrisse já, para ter menos um presente concorrente no concurso de Natal "Qual é o irmão com mais presentes-surpresa.")

Lá abri e, caramba, não estava nada à espera. Basicamente era algo que andava a querer comprar e  fazia muita falta para o trabalho. Fora a parte fixe da coisa. 

Fiquei feliz da vida. Vá de brincar com o brinquedo.

Pior, vá de publicar no Facebook pessoal e no do Leite. "Ai que estou tão feliz e romãs, patati, patatá".

A questão séria, no meio desta história, é que uma pessoa não pode estar feliz e comunicá-lo. Há sempre qualquer coisa que corta logo o caule pela ponta. Corta o barato, sai caro e, se for possível, é tributado, duplamente, com toda a inconstitucionalidade possível e até com violação dos direitos humanos, a acenar para os tribunais europeus e para o TPI. 

Essa é que é essa. Não vale a pena demoverem-me. Trigo limpo, farinha amparo e todos os dizeres populares que se lembrarem.
Ou seja, acabei agora mesmo de descobrir que estou completamente afónica.Vinte minutos após ter publicado sobre a minha felicidade. Toma lá que é para te calares.

Afónica.
Nem um som. Coisa de nada que só os cães ouvem. Sai assim um agudinho de desespero, como quem grita abaixo de vinte e cinco metros de profundidade do mar que banha a costa da Quarteira e quem (não) ouve esse grito em Melbourne, durante um incêndio. Nada.

Coisa boa. Até já cancelei a saída de hoje. 

Exagero? Como é que grito em caso de emergência? Não grito!

Das duas vezes na vida em que fiquei afónica, em ambas tive imediatamente uma emergência (bem aflitiva). Precisei de gritar e nada. (Desespero, falta de ar, etc.)  Foi bonito. Memorável. A duplicar.

Portanto, não há pão para malucos. Até o som restabelecer-se, não saio de casa sem ser acompanhada (Por duas pessoas, não vá acontecer algo a uma e não poder gritar.), não fico em casa sozinha e, mais importante, não vou à rua com a Cacau. Não vá a pequena pensar que está livre da ordem, das regras e da educação e, mais importante, da minha voz castradora.

É isto. 

Num segundo, a gritar ao mundo que estou feliz. No outro, afónica. Uma corneta entupida.

Alexandra, a corneta entupida.

Depois admirem-se que já não partilhe ou escreva nada no blogue.

Os anos passam mas a propensão para o desastre não.