quinta-feira, setembro 29, 2016

As pessoas preferem ser mornas, inertes

Saudades das acções desmedidas, apaixonadas, impulsivas, das dissertações eloquentes sobre qualquer coisa, mesmo que seja a chuva ou se o preço dos figos deveria ser tabelado.

Saudades daqueles que te agarram no pulso e levam a correr rua fora só porque apetece fazê-lo no meio de gargalhadas.

Saudades dos que bebem e confessam que gostam de ti e só não te beijam porque jantaram iscas de cebolada.

Saudades dos que fazem serenatas à janela.

Saudades dos que te acompanham nos mergulhos no mar à luz da lua.

Saudades das fogueiras na praia e dos rostos alaranjados pelo fogo.

Saudades dos que percorriam a marina de patins contigo a grandes velocidades e abalroavam turistas para não cairmos pelas rochas.

Saudades de saltar pela janela para ir sair.

Saudades dos loucos. Desses saudáveis loucos que não vivem a vida em banho maria, em fogo lento, ameno, inexistente, adormecido.

Já não se fazem loucos desses e esses, muitos deles, perderam essa loucura.

Saudades de ti. Hoje é mais um aniversário em que não estás. Saudades de tantas coisas. Tantas.

quarta-feira, setembro 21, 2016

Quando a beleza vai pelo cano abaixo


À noite, quando a vossa pele vira-se para vocês e grita:

- Tira-me esta maquilhagem de cima! Olha lá, já não aguento mais! Cheeeega!

E vocês, meio tristes, respondem:

- Mas... Mas... Estás tão bonita! Já reparaste? Vê bem!

Fitam o espelho uma e outra vez mais 

- Não! Estás tão bonita!

E lá vai uma mistura creme pela água abaixo. O ar saudável, bronzeado, com boas cores nas faces. As olheiras inexistentes, que realçavam o vosso olhar brilhante. A pele suave como a pele de um pêssego. Os anos a menos. Os lábios rúbeos e viçosos. Praticamente a vossa beleza, que tanto trabalho deu de manhã.

Que se lixe. A almofada é cega, à noite todos os gatos são pardos e amanhã há mais!