terça-feira, agosto 28, 2007

Amor com amor se paga II

Toca o telemóvel da minha mãe.

Era o meu irmão.

A mamã do menino, que no ginásio mal se esforça para subir para a passadeira e acenar à àguia Vitória, corre a casa de ponta a ponta.

Da cozinha à sala, ansiosa, a borboleta voa.

Perante o meu ar incrédulo.

- Deve ser o teu irmão! - Grita de felicidade.

A borboleta dá no Red Bull, só pode.

Agarra sofregamente o telemóvel.

Quase esbarrando no sofá.

Põe o aparelho em alta voz.

- Então, filho? Muitos mergulhos?

- Ahh, sim... Ó Mãe, tenho andado aflito dos pés. Ando com uma comichão... Só consigo usar chinelos.

Encostadíssima na ombreira da porta, viro-me para trás para a minha mãe não perceber a risota.

Agarrada à barriga, quase caio ao chão de imaginar a cena e tanto rir.

- Deves ter apanhado um fungo. Vai já ao médico! Ao hospital ou ao centro de saúde. Tens de ir ao médico antes que isso piore! Uma vez, uma colega minh...

- Já fui, mãe!

- E então?

- Primeiro, o médico andou às aranhas. Fez exames, pediu para voltar lá no dia seguinte.

- E então? Tu vê lá, se precisares de alguma coisa, liga à tua tia Bia! Que será isso? Raio da poluição nas praias! E as pessoas são porcas, atiram tudo para o chã...

- Calma! Só sei que vou ter que fazer mais testes. Os médicos não fazem ideia do que se trata. Dizem que não parece ser perigoso mas vou ter que passar os restantes dias das férias, no hospital, a fazer mais exames e em observação.

- Ai o meu filhinho! Vê lá! A mãe apanha o próximo autocarro e está aí em poucas horas. Queres que te leve uma canjinha?

- Ó mãe não é necessário, está aqui a Rita e, de certeza, que não é nada!

- Ai, mas que apoquentação! Eu vou já para aí!

Coitada da minha mãe. Apanhada no meio da beligerância, civil seriamente atingida por um estilhaço de um morteiro.

Ainda entro na sala, tentada a repor a verdade.

Fito a progenitora.

Imagino a subida do sobrolho da matriarca, seguida do já conhecido olhar castigador.

O meu sorriso amarelo "Estou lixada!" Sorrateiramente, virar as costas para sair mansinha, pé ante pé, para pegar na mochila e emigrar para o Cazaquistão...

Abrir a porta da rua...

"MARIA ALEXANDRA!!!!???? Onde julgas que vais??? Anda cá, temos muito que falar!!! MARIA ALEXANDRA???"

Nunca mais ser encontrada, viver incógnita e escrever-vos via wirelless, no meio de nenhures no planalto desértico, acompanhada de de um bode e do Reggae, que assobiaria o "Verão Azul" em troca de tenges.

Repor a verdade?

Já diz a sabedoria popular,

"Mais perto estão os dentes que os parentes"...

sexta-feira, agosto 24, 2007

Post Secrets que podiam ser meus I


Psssssst!!! Assobia e finge que não é contigo!

Culpem a silly season...

quinta-feira, agosto 23, 2007

Chef Alexa

Cenário: A minha cozinha.

Reggae no ombro, entremez do papagaio que acompanha o temeroso corsário das caraíbas.

Preparo o jantar.

A minha mãe repousa, despreocupada e contente, entretida com mais uma das trinta repetições do mesmo episódio da Oprah.

Ora bem, frango de fricassé.

Reúno os ingredientes, com ar de entendida.

- Está tudo, só faltam as temidas. - Tremo.

Vou à dispensa e corro as prateleiras.

Nada.

Subo ao escadote, espreitando as prateleiras de cima.

Entretanto, o Reggae escapa-se do meu ombro para casa, soltanto assobios de desagrado pela entreturbação.

Lá vislumbro a pretendida pequena caixa de cartão, escondida por trás de conservas e da garrafeira de reserva do meu pai.

Que tento alcançar, esticando o braço o mais que posso e empinando-me em bicos de pés sobre o escadote.

Está-se mesmo a ver. Desequilíbrio... Derrubo uma pilha de latas que batem e rolam pelo chão, num estardalhaço ensurdecedor, acordando toda a casa. Felizmente, não caio.

- Que se passa? - Pergunta a minha mãe, alertada com o barulho da confusão.

- Nada! Não te preocupes! Só deixei cair umas latas.

Volto a esticar-me, desta vez alcançando a desejada embalagem. Desço do escadote, não sem antes tropeçar em duas ou três latas que almejavam a minha queda.

Empurro as latas ao pontapé para dentro da dispensa, fingindo acreditar que ninguém daria pela desarrumação.

Ora vamos lá a isto.

Coloco o avental e prendo cuidadosamente o cabelo para não ser atingido por vestígios indesejados do preparado.

Da pequena embalagem, retiro um par de luvas de borracha, iguais às utilizadas pelos médicos nas cirurgias.

Coloco-as, compenetrada. A concentrar-me para a díficil operação que se segue.

Escolho uma faca de lâmina afiada. Não era uma faca, era uma catana de desbravar mato. Alexandra, a aventureira na selva intocada. Ali vem o Indiana Jones para a ajudar na nova aventur...

- Ahhh! É verdade! - Largo tudo, corro ao quarto para buscar os óculos de sol mais largos que tenho e regresso.

Inspiro fundo.

"Tem que ser." Arrepio na coluna. "Tem que ser."

- Está tudo bem? - Pergunta a minha mãe, entretanto.

- Sim! Estou quase a pôr o tacho ao lume. - Respondo.

Inspiro fundo. "É desta."

Para terem noção, neste momento, quem entrasse na cozinha encontrar-me-ia de avental Hello Kitty bem apertado, luvas cirúrgicas, catana na mão, coque de bailarina no cabelo e óculos de sol Versace.

A ventilar.

Dirijo-me à caixa junto à janela. Torço o nariz, fecho os olhos, ponho uma mão a custo e retiro duas... arghhhh... duas cebolas.

Tremuras na mão. O corpo todo em convulsões e espasmos.

Corro até à bancada e largo, aflita, as ditas. Corro novamente até à janela, desta feita para respirar ar fresco.

Volto à bancada, agora com uma mola presa no nariz. Inspiro pela última vez.

Empunho a lâmina, fecho os olhos e esquartejo, enojada, as duas cebolas. Golpadas violentas.

Sem conseguir respirar. O rosto verde. Não, o rosto azul. Roxo...

Dos olhos soltam-se lágrimas gordas e sinceras.

Não porque fora atingida pelos sucos vertidos pelo corte dos bolbos, mas porque estava verdadeiramente desgostosa e repugnada com a tarefa.

Termino e deito tudo à pàzada para dentro do tacho.

Aumento o lume, limpo os vestígios do preparado com lexívia, livro-me das luvas e do avental e corro para a banheira a fim de me libertar daquele horror peçonhento que se entranha na pele e na memória.

Com efeito, assim foi.

Duche rápido para esfregar a pele, seguido de banho de imersão.

Banho de imersão relaxante, repousante, imerso, imenso, descansado... demorado.

- Xana? Xana?...

Olhos semi-serrados, já esquecida das cebolas, a brincar com o patinho Qua-Qua, no Lago dos Cisnes.

- MARIA ALEXANDRA, QUE CHEIRO É ESTE???

Era o jantar.

Corrijo, o esturricado.

Que foi directamente para o lixo, quase estragando o tacho, tal era o queimado.

As janelas abertas para entrar ar. O Raggae enfurecido e quase sufocado pelos rolos de fumo preto que preenchiam o ar da cozinha.

- Telepizza, boa noite.

- Estou sim, boa noite. Por favor, são duas pizzas médias com frango, milho, ananás...e SEM CEBOLA!

terça-feira, agosto 21, 2007

Publicidade enganosa

Pronta a esquecer o episódio anterior e após duas horas de atraso das meninas, lá rumámos, alegres e airosas, à praia. Pelo caminho, cânticos, gargalhadas e lançamento de beijos aos transeuntes.

Praia cheia, típico dia de Agosto. Meninas refasteladas na zona reservada da praia, frente ao bar apinhado, por cortesia dos donos, nossos amigos.

- Vou dormir! - Aviso, após estender a toalha. - Se me acordarem, logo à noite levam com a minha má disposição! - Para precaver, tomo um comprimido "leve" para dormir.

Que não teve forma de fazer efeito.

Pois, entretanto, o Àlvaro chegou com a Ana e a Zélia e arremessa violentamente a sua toalha para cima de mim.

- Acorda, miúda!

- Hã? - Completamente zonza. Zonza, não. Pedrada. Naquele momento, estava em Woodstock, a aplaudir a Janis e a ver latas de leite condensado psicadélicas à minha volta.

- Olha estão a dar sacos com brindes!

Com a cabeça às voltas, esfrego os olhos e lá vou, aos tropeções, pedinchar por um. Luto com três banhistas pelo último saco. Arregalo os dentes e rosno. Feito, é meu.

Vasculho atabalhoadamente o dito. Revistas, àgua, barra de cereais, pensos diários... Desodorizante Axe???

- Não quero isto! - Rapidamente, atiro-o ao Álvaro.

Que agradece, entusiasmado, a singela oferenda.

- Agora é que vamos ver todas elas a cairem aos meus pés!

Não perde tempo, o sacana. Retira a tampa da embalagem e pulveriza-se com a mistela odorífera. Pulveriza o corpo, a minha toalha e os meus olhos, graças ao vento. O odor perfumado desce-me pela garganta.

Directamente para o estômago.

Barriga a revolver.

NÃO, NÃO SÃO BORBOLETAS ENAMORADAS.

Esverdeada, tento conter os vómitos a custo. O bolsar não para, os olhos esbugalhados lacrimejam de aflição.

Até que não suporto mais e solto um ruidoso "Blerghhhhhh".

Suco gástrico expelido, quase vomito as tripas. O Epá e o almoço engolidos à pressa espalhados pela toalha, areia e por todos os que me rodeiam.

Olhares de nojo.

Escusado dizer que a maior parte do bar evacuou e fugiu para as montanhas.

E, tão cedo, a grupeta não será convidada para voltar à dita praia.

Contudo, era a única que não demonstrava preocupação.

Aliás, esfregava as mãos e sorria de contentamento.

Alarvemente, já me vislumbrava à sombra de um coqueiro, a beber daiquiris de morango e a disfrutar da brisa quente e exótica de uma ilha no Pacífico.

Tudo à conta de um processo de indemnização bilionário por publicidade enganosa.

Até que passou o efeito do maldito fármaco para dormir.

Esfumando-se o coqueiro, as bebidas e a brisa exótica.

Bem como o processo de indemnização milionário, ficando ainda a apanhar beatas do chão para pagar as pesadas custas ao tribunal.

Próximo post: Como, no fim-de-semana seguinte, enfrentei uma ida à piscina municipal de Loures, sem apanhar uma doença ou micose hiper-contagiosa ou passar a incluir "bué" e "tipo" no vocabulário. Tudo graças ao "efeito Axe".

segunda-feira, agosto 20, 2007

Panado de avestruz

Como já é hábito, sábado de manhã, estava no ginásio à espera que a Sofia e a Carmen se despachassem para irmos para a praia.

É sempre a mesma novela. Chega a sexta-feira e a Sofia dá-me na cabeça a pedir para não ir para o ginásio. "Passas a vida no ginásio! Descansa!"

Sensato, não fosse isto sair da boca da detentora do recorde dos dois minutos na elíptica.

Visto que aquelas duas nunca estão prontas antes da uma da tarde, o pedido é sempre contrariado. Assim, vou, pelo menos, à aula de aeróbica.

Terminadas as piruetas rodopiadas, a mensagem da praxe no telemóvel. “Alexa, vai treinar. Atrasadas!" Como já sei o que a casa gasta, aproveito a longa demora para fazer um treino intensivo.

Só que, neste sábado, estava sem vontade para levantar uma andorinha anorética, em pleno voo, rumo aos países do sul.

Aproveito, então, para fazer o meu exercício preferido. “Dar à língua”.

Encontro o Álvaro e a Ana, a treinarem supino plano no multipower, e entro na picardia.

- Álvaro, no multipower? Isso é de instrutor? Por que é que não fazes com a barra livre que é muito mais difícil? Só a barra pesa vinte quilos e a instabilidade adiciona dificuldade!

- Nem penses! Quero por carga a sério! - Riposta, já a adivinhar a conversa.

- Mas treinas melhor com aquela. Isso é para principiantes!

- Não!

- Pffffffff! Tanta coisa e só pões essa carga? Fraco.

Entretanto, a Ana ria-se.

- Estás parva? Nem uma repetição fazes com isto!

- Pfffffff! – Rondo a carga e começo a fazer contas aos discos acumulados e à vida. – Uma? Só uma? Queres apostar? Vinte e cinco euros como consigo!

- Ahahaha! Tontinha! És a super-mulher, não?

- Aposta! Aposta! Uma vez, na viagem de finalistas, apostei com um colega que fazia seiscentos abdominais e ele ficou a arder dez contos! Ai, quando eu quero... Aposta! Vou fazer!

Sem esperar pela resposta, retiro a toalha dele do banco, atiro-a ao ar e coloco a minha. Adapto os pulsos à pega, verifico se a direcção da barra estava no sentido do peito...

- Estás a fazer o exercício mal. Tens que puxar o banco mais para trás. Maçarico, a barra vai em direcção ao pescoço! – Provoco.

Olho à minha volta, inspiro confiança e preparo-me, novamente. Seguro a barra, tiro as pegas de segurança, faço força e....

Ainda de bem que o moço não apostou.

Porque a barra, cara blogolândia, cai violentamente sobre o meu peito, contrariando a força dos meus bracitos, tremeliques, incapazes de a suster. Cai pela gravidade e sem dar oportunidade a alguém que a segurasse e me protegesse.

Peito completamente esborrachado, a Alexandra entalada pela barra e pela vergonha.

Gargalhada geral na sala.

Com as faces a arder, afundo o rosto na toalha e saio de mansinho, rabo entre as pernas, soltando suaves e envergonhados ganidos.

Ao que parece, aqui a espertinha havia feito mal as contas. Contei vinte e cinco quilos.

O que seria perfeito.

Não tivesse ignorado os outros vinte e cinco do lado esquerdo. A barrita pluma pesava cinquenta quilos.

Alexandra, a avestruz panada.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Amor com amor se paga

Como devem ter reparado, nas últimas semanas tenho estado sem internet.

O motivo já o descobri e é só um.

O meu irmão.

O sacaninha, que adora agitar os humores cá em casa, sabotou-me a net, retirando a autorização da transmissão do sinal do wirelless para o meu portátil.

Acontece que o p.c. principal da casa é comum mas, ainda após várias desavenças e contestações, está instalado, nada mais nada menos, no quarto do imbérbere.

Ora, o intragável está de férias. Passa os dias inteiros a roncar sem sair do quarto. Faz tudo isto sem qualquer ponta de inocência. O desporto favorito dele é mesmo ver-me a arrancar os cabelos.

Acresce que tenho a família inteira de férias, acampada em casa. Cigarras debochadoras desta formiga da labuta jurídica, que dão cabo do meu juízo e saúde mental. E nada fazem para travar o génio inventivo do mentecapto. Pior, para eles, o mentecapto é um anjo.

Para esclarecer vossas excelências, a criatura tem vinte e seis anos, longe de um petiz rabino e mariola.

Farta de me queixar a quem de direito (A quem paga as contas da internet e, supostamente, deveria impôr ordem nesta casa da pradaria.), aos meus pais, e após a confirmação do causador do mal da minha net (Ele nunca confessou, mas os SILCAC* são infalíveis.), pus mãos à obra.

É por isso, blogolândia, que neste momento me refastelo em frente ao portátil, a escrever.

Desinstalei e reinstalei o wirelless, desbloqueei o meu p.c. no computador principal, troquei a autorização ao IP do portátil do meu irmão (Ele que se amanhe!) e ainda arranjei um sinal livre de um vizinho qualquer, a fim de precaver eventuais próximos problemas.

Mais importante foi o que fiz a seguir.

Atentem bem, prestem toda a atenção.

Dirigi-me à loja das festas, no Colombo, e comprei um frasco de pó de comichão.

Pó milagroso que imediata e prazeirosamente despejei de forma igualitária em TODO o calçado do execrável.

Esfrego as mãos de contente e esboço um sorriso manhoso, qual Mutley das Corridas Loucas.

MUAHAHAHAHAHAHAAH!


*Serviços de Informação do Leite Condensado às Colheradas.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Luís, o Cassinatra das ondas

O Luis é um amigo sincero ganho na lotaria de um trabalho onde poucos amigos se fazem. Trás na bagagem um sorriso fácil e a arte de bem falar e criar admiradoras(es) à sua volta. Tem o rugby no sangue, provavelmente porque ninguém lhe explicou que, para enfrentar bisontes, deveria antes ter encarreirado para forcado e honrado a tradição lusa, ao invés da britânica.

Aqui há uns dias, foi de férias para as Maldivas, com um grupo de amigos. Surftrip no paraíso das luas-de-mel.

Felizes da vida, passaram os dias dentro de água, deslizando sobre os corais, até ficarem sem forças e arrastarem-se para terra.

Parados no outside. À espera da onda perfeita.

Lá ao fundo, desenha-se o princípio de uma crista de àgua. Sublime. Cristalina, reflexos de prata num desenho por todos sonhado.

O Luís arranca até ao seu encontro. Braçadas vigorosas, a musculatura bronzeada rema até acompanhar a velocidade da onda. Prepara-se para fazer o take off. Coloca-se em pé na prancha, equilíbrio perfeito.

Era perfeito. Foi violentamente derrubado por um peixe enorme. Gigante. Matulão!

Que lhe rouba a onda.

E a glória.

Furioso, como nunca se dá por vencido, corre atrás do monstro marinho.

Esquece-se que está na àgua, vislumbra apenas o adversário viscoso.

Peixe imediatamente placado.

A onda perfeita. A prancha perdida. O Luís agarrado ao escamoso. O Luís faz tow-in no escamoso!

Na praia aplaudem. Nunca se vira nada assim! O meu amigo embevecido. Orgulhoso. Sai da àgua em ombros. O peixe dá à costa, completamente derrotado.

À noite, festa de arromba em honra do Luís. Cânticos e danças da tribo local, churrasco para os surfistas lusos. Entre danças, exóticos cocktails bebericados e gargalhadas lá explicaram o cariz do feito heróico.

Agora imaginem a cara do moço. E dos amigos.

Ao saberem que o feito heróico não havia sido a espetacular surfada mas sim o knockout do corpolento aquático.

Ao que parece, o monstro marinho infernizava a vida da tribo local. Ameaçador, comia a faina e destruia as redes de pesca. Era o temido “Grande Tanakui”. E aos grandes heróis, que praticavam feitos como o do Luís, era dada a recompensa máxima.

Ou seja, o Luís acabara de ganhar a mão da filha do Chefe da Tribo. A tribo exultava. Gritos de felicidade e comemoração. Achando piada, os surfistas lusos riram-se do facto e entraram na onda de alegria.

Riam-se. Afinal, surf e miúdas é sempre uma boa combinação para férias.

Nem sempre.

Foi então que lhes apontarem a noiva. Uma calmeirona morena e redonda dos seus 235 quilos, que, imediatamente, correu para o meu amigo, osculando e envolvendo o herói em apertados e sufocantes abraços.

Quem foi que, no dia seguinte, de madrugada, munido de bagagem, pranchas e toda a restante tralha, saltou a janela do bungalow e, de rabo entre as pernas, fugiu imediatamente para Lisboa, sem esperar pelo final das férias, quem foi?

O que seria da vida sem os nossos heróis...

Já agora, aproveito para apelar que visitem e participem no blogue do Luís, Lex Sportiva, para o qual também já orgulhosamente contribuí.

Direito e desporto aliados numa escrita inteligente e em temas actuais e interessantes.

terça-feira, agosto 14, 2007

Os Outros*

O Luís pediu-me para escrever um post sobre ele.

Já está.


*Assim se abre nova rubrica. De vez em quando, escreverei sobre os amigos e os que me rodeiam. Começo pelo Luís. Moço, descansadito que o post não é este!!!

quinta-feira, agosto 09, 2007

...Trancas à porta

Aqui há uns tempos, disseram-me que acontecia tanta coisa e apareciam tantos entraves sem sentido na minha vida, que parecia que alguém me desejava mal, apesar de eu ser uma boa pessoa (sublinhem e memorizem esta última parte, p.f.).

Ensinaram-me, então, uma espécie de reza, que deveria ser proferida todos os dias.

Influenciada pelas impressionantes palavras, todo o santo dia, ao acordar, debitava diligentemente a ladainha ensinada.

O que é certo é que os dias se tornaram mais leves e fluídos, com menos barreiras para ultrapassar. Arrumei as sapatilhas de atletismo, encostei-me e desfrutei da paisagem.

Até que, por desmazelo, deixei de repetir a lenga-lenga.

Hoje de manhã, levanto-me e dirijo-me ao frigorífico, como faço todos os dias, para tomar o pequeno-almoço.

Ainda ensonada, abro a porta do aparelho.

Do qual, inesperadamente, saltam cachos e cachos de uvas, empurrados lá para dentro à força, pelo meu irmão na noite anterior.

Os quais não me deram sequer tempo de pestanejar, quanto mais impedir que me atingissem e rolassem dezenas de bagos por todo o chão da cozinha.

Arrumo e limpo tudo, resmungando e rangendo os dentes.

Terminado o serviço (e já completamente atrasada), fecho a porta.

Com demasiada força.

Que faz estremecer o electrodoméstico, todos os ridículos imans nele apostos e o chão da casa toda.

Tremor de terra provocado.

Que, desta feita, derruba o vaso de violetas colocado em cima do maldito frigorífico.

Por pouco, não me acerta na cabeça, mas desfaz-se em cacos, espalhando terra e pedacitos cortantes de loiça pelo chão acabado de limpar.

Posto isto,

Que o Arcanjo S. Miguel

Enterre todo o mal no meu corpo.

Ilumine o exército de arcanjos

E que eles me rodeiem e protejam contra os maus desígnios.

Aula de Capoeira - O Regresso de Jedi

Acabei por não vos contar o meu regresso à já descrita aula de Capoeira.

Pois bem, quinta-feira seguinte, retorno à dita, de forças retemperadas para dar mais uma coça ao mestre.

Pouso a garrafa e a toalha, encosto-me junto à entrada do estúdio. Postura decidida.

Ao pé das toalhas, os outros alunos reunem-se em círculo suspeito.

Cochicham. Conspiram.

Enviam-me olhares ameaçadores.

Faço um sorriso inocente de bandeira branca.

Rosnares de resposta. Viram-me as costas, fazem-me manguitos, rogam-me pragas até aos meus trisnetos e vão-se embora.

À porta, junto ao horário das aulas, a justificação para tal recepção.

"Informam-se os sócios que, por motivos de desistência do instrutor, a aula de Capoeira será cancelada a partir de hoje até ao início do mês de Setembro."

segunda-feira, agosto 06, 2007

Beach Tennis

A propósito de somar pontos...

Sábado, mega tarde de praia.

Lá para o finalzinho do dia, a Carmen lembra-se de irmos jogar às raquetes.

Desafio que aceito prontamente, ansiosa por demonstrar os meus dotes de Sharapova Pocahontas.

Meia hora para decidirmos se jogávamos em biquini ou se vestiamos qualquer coisita.

A audiência começa a juntar-se à nossa volta. Acotovelam-se.

A Carmen decide pelo modelito calças brancas e esvoaçantes de algodão. Eu fico-me apenas pelo biquini para realçar o famoso rabo. Está frio, diz ela. Com mini-saia ou sem mini-saia o frio é igual, respondo. Rabo da Xana:1.

Lá começámos a aquecer. Serviços estonteantes. Raquetadas e respostas rápidas e vigorosas.

A multidão rejubila.

Loira e morena debatem-se pela bola cor-de-rosa. Almejando a vitória e a saída em ombros, levadas pelo insuflado e banhado em óleo Johnson barman da noite. Por sua vez, este seguia, embevecido, o duelo enquanto retesava os quadríceps (E espalhava mais óleo Johnson pelo corpo. Litros de óleo Johnson.).

Empatadas. A multidão, espectante, já chegava às praias da Trafaria (Daí a razão de tanto trânsito naquele final de tarde). Torcem, gritam, puxam os cabelos. Boxers com números de telefone esvoaçam ao nosso encontro.

A Carmen serve. Bola esquiva e rápida. Recebida, por mim, a custo mas devolvida com a mesma força e destreza. Passa mesmo ao lado da cabeça da Carmen. Encolho os ombros (E a cabeça... e o rabinho!) com receio do embate. A bola faz ricochete no poste da bandeira. Ganha velocidade e vai de encontro certeiro à cabeça da velhinha da cadeira de rodas, que apreciava tranquilamente o pôr-do-sol no horizonte.

Já não. Havíamos apagado a velhinha.

Sem que ninguém se tivesse apercebido.

A não ser a Sofia, a Sara e o Nuno, que rebolavam na areia a rir com a nossa cara.

Até que caímos em nós.

Nem mais um segundo. Agarrámos na tralha e pusemos-nos em fuga, aos tropeções, não fosse alguém dar pelo feito azarado.

Super-heroínas, sim. Mártires apedrejadas em praça pública é que já não!

Chamada do inferno

"Ohh Boy you looking like you like what you see..."

-Estou?... Estou?... - Nada. Desligo e volto ao trabalho.

"Ohh Boy you looking like you like what you see, Won't you come over check up on it..."(Já sei, tenho que actualizar o toque do telemóvel...)

- Sim? Estou?... Estou??? - Novamente silêncio do lado de lá. Impaciente, desligo e concentro-me na contestação.

- Ora bem, artigo 23º... O Autor enviou ao Réu as facturas supra referidas por carta regis...

"Ohh Boy you looking like you like..."

- Sim?... Estou??? - A paciência havia esgotado. A minha doce e bela face de princesa bonequinha tranquila e airosa dá lugar ao rosto de um boi enfurecido, daqueles com uma argola e fumo expelido pelas narinas.

- Estou? Não está? Ai não está???

Parto para a parvoeira.

- És cruel, tiraste a tua filha do carrocel, foste à casa de banho sem papel...

Do outro lado, nada. Continuo, desta feita trauteando em tirolês e trinados esganiçados de soprano mal amanhada.

- Ooooooooooooh Ooooooooooooh Yea yea yeaa Ooooooh Ooooh yea... Now you and I Can get together let us start a revolution... - Simultaneamente, executo uma coreografia, improvisada no momento, infelizmente, impossibilitada de ser vista pelo autor da chamada.

Silêncio. Continuo.

- Give a lil' love you and I can change the world, live a lil' love make it beter if we try. Show a lil' love let your love rain let it rain down on meeeeeeeee...

Até que, a voz do infortúnio.

- Maria Alexandra! Estás louca?? Imagina se fosse um cliente? Que irresponsabilidade! - Sim, o meu pai era quem, afinal, estava do outro lado da linha.

Ainda tento disfarçar com a história das linhas ou conversas cruzadas.

Que cai em saco roto, pois a resposta não se deteve.

- Achas que não reconheço a tua voz? Graças a Deus nunca te candidataste ao festival da canção... - Desabafa.

Sempre a somar pontos, cara blogolândia. Sempre a somar pontos.