Hoje, o meu irmão apareceu cá em casa com uma surpresa.
Basicamente, nas suas palavras, o meu presente de Natal antecipado. Coisa que não estava nada à espera e deixou-me um pouco atarantada.
- Tens duas hipóteses. Ou abres agora ou abres só no Natal.
- Ora mas isso tem lá algum jeito? Sabes como sou curiosa e apareces um mês antes com o presente? Mas... Nem perguntaste o que queria como fazemos todos os anos (Na casa da pradaria, somos muito práticos com estas coisas. Ou dizemos o que queremos ou damos várias ideias.)! Nem pensar!Isto não tem jeito nenhum! Abro só no Natal.
- Pois mas tens de abrir agora porque podes querer trocar e só tens quinze dias para o fazer. (Mentiroso, o pelintra! Tinha até Janeiro para trocar. O que queria era mesmo que abrisse já, para ter menos um presente concorrente no concurso de Natal "Qual é o irmão com mais presentes-surpresa.")
Lá abri e, caramba, não estava nada à espera. Basicamente era algo que andava a querer comprar e fazia muita falta para o trabalho. Fora a parte fixe da coisa.
Fiquei feliz da vida. Vá de brincar com o brinquedo.
Pior, vá de publicar no Facebook pessoal e no do Leite. "Ai que estou tão feliz e romãs, patati, patatá".
A questão séria, no meio desta história, é que uma pessoa não pode estar feliz e comunicá-lo. Há sempre qualquer coisa que corta logo o caule pela ponta. Corta o barato, sai caro e, se for possível, é tributado, duplamente, com toda a inconstitucionalidade possível e até com violação dos direitos humanos, a acenar para os tribunais europeus e para o TPI.
Essa é que é essa. Não vale a pena demoverem-me. Trigo limpo, farinha amparo e todos os dizeres populares que se lembrarem.
Ou seja, acabei agora mesmo de descobrir que estou completamente afónica.Vinte minutos após ter publicado sobre a minha felicidade. Toma lá que é para te calares.
Afónica.
Nem um som. Coisa de nada que só os cães ouvem. Sai assim um agudinho de desespero, como quem grita abaixo de vinte e cinco metros de profundidade do mar que banha a costa da Quarteira e quem (não) ouve esse grito em Melbourne, durante um incêndio. Nada.
Coisa boa. Até já cancelei a saída de hoje.
Exagero? Como é que grito em caso de emergência? Não grito!
Das duas vezes na vida em que fiquei afónica, em ambas tive imediatamente uma emergência (bem aflitiva). Precisei de gritar e nada. (Desespero, falta de ar, etc.) Foi bonito. Memorável. A duplicar.
Portanto, não há pão para malucos. Até o som restabelecer-se, não saio de casa sem ser acompanhada (Por duas pessoas, não vá acontecer algo a uma e não poder gritar.), não fico em casa sozinha e, mais importante, não vou à rua com a Cacau. Não vá a pequena pensar que está livre da ordem, das regras e da educação e, mais importante, da minha voz castradora.
É isto.
Num segundo, a gritar ao mundo que estou feliz. No outro, afónica. Uma corneta entupida.
Alexandra, a corneta entupida.
Depois admirem-se que já não partilhe ou escreva nada no blogue.
Os anos passam mas a propensão para o desastre não.