Cenário: A minha cozinha.
Reggae no ombro, entremez do papagaio que acompanha o temeroso corsário das caraíbas.
Preparo o jantar.
A minha mãe repousa, despreocupada e contente, entretida com mais uma das trinta repetições do mesmo episódio da Oprah.
Ora bem, frango de fricassé.
Reúno os ingredientes, com ar de entendida.
- Está tudo, só faltam as temidas. - Tremo.
Vou à dispensa e corro as prateleiras.
Nada.
Subo ao escadote, espreitando as prateleiras de cima.
Entretanto, o Reggae escapa-se do meu ombro para casa, soltanto assobios de desagrado pela entreturbação.
Lá vislumbro a pretendida pequena caixa de cartão, escondida por trás de conservas e da garrafeira de reserva do meu pai.
Que tento alcançar, esticando o braço o mais que posso e empinando-me em bicos de pés sobre o escadote.
Está-se mesmo a ver. Desequilíbrio... Derrubo uma pilha de latas que batem e rolam pelo chão, num estardalhaço ensurdecedor, acordando toda a casa. Felizmente, não caio.
- Que se passa? - Pergunta a minha mãe, alertada com o barulho da confusão.
- Nada! Não te preocupes! Só deixei cair umas latas.
Volto a esticar-me, desta vez alcançando a desejada embalagem. Desço do escadote, não sem antes tropeçar em duas ou três latas que almejavam a minha queda.
Empurro as latas ao pontapé para dentro da dispensa, fingindo acreditar que ninguém daria pela desarrumação.
Ora vamos lá a isto.
Coloco o avental e prendo cuidadosamente o cabelo para não ser atingido por vestígios indesejados do preparado.
Da pequena embalagem, retiro um par de luvas de borracha, iguais às utilizadas pelos médicos nas cirurgias.
Coloco-as, compenetrada. A concentrar-me para a díficil operação que se segue.
Escolho uma faca de lâmina afiada. Não era uma faca, era uma catana de desbravar mato. Alexandra, a aventureira na selva intocada. Ali vem o Indiana Jones para a ajudar na nova aventur...
- Ahhh! É verdade! - Largo tudo, corro ao quarto para buscar os óculos de sol mais largos que tenho e regresso.
Inspiro fundo.
"Tem que ser." Arrepio na coluna. "Tem que ser."
- Está tudo bem? - Pergunta a minha mãe, entretanto.
- Sim! Estou quase a pôr o tacho ao lume. - Respondo.
Inspiro fundo. "É desta."
Para terem noção, neste momento, quem entrasse na cozinha encontrar-me-ia de avental Hello Kitty bem apertado, luvas cirúrgicas, catana na mão, coque de bailarina no cabelo e óculos de sol Versace.
A ventilar.
Dirijo-me à caixa junto à janela. Torço o nariz, fecho os olhos, ponho uma mão a custo e retiro duas... arghhhh... duas cebolas.
Tremuras na mão. O corpo todo em convulsões e espasmos.
Corro até à bancada e largo, aflita, as ditas. Corro novamente até à janela, desta feita para respirar ar fresco.
Volto à bancada, agora com uma mola presa no nariz. Inspiro pela última vez.
Empunho a lâmina, fecho os olhos e esquartejo, enojada, as duas cebolas. Golpadas violentas.
Sem conseguir respirar. O rosto verde. Não, o rosto azul. Roxo...
Dos olhos soltam-se lágrimas gordas e sinceras.
Não porque fora atingida pelos sucos vertidos pelo corte dos bolbos, mas porque estava verdadeiramente desgostosa e repugnada com a tarefa.
Termino e deito tudo à pàzada para dentro do tacho.
Aumento o lume, limpo os vestígios do preparado com lexívia, livro-me das luvas e do avental e corro para a banheira a fim de me libertar daquele horror peçonhento que se entranha na pele e na memória.
Com efeito, assim foi.
Duche rápido para esfregar a pele, seguido de banho de imersão.
Banho de imersão relaxante, repousante, imerso, imenso, descansado... demorado.
- Xana? Xana?...
Olhos semi-serrados, já esquecida das cebolas, a brincar com o patinho Qua-Qua, no Lago dos Cisnes.
- MARIA ALEXANDRA, QUE CHEIRO É ESTE???
Era o jantar.
Corrijo, o esturricado.
Que foi directamente para o lixo, quase estragando o tacho, tal era o queimado.
As janelas abertas para entrar ar. O Raggae enfurecido e quase sufocado pelos rolos de fumo preto que preenchiam o ar da cozinha.
- Telepizza, boa noite.
- Estou sim, boa noite. Por favor, são duas pizzas médias com frango, milho, ananás...e SEM CEBOLA!
Reggae no ombro, entremez do papagaio que acompanha o temeroso corsário das caraíbas.
Preparo o jantar.
A minha mãe repousa, despreocupada e contente, entretida com mais uma das trinta repetições do mesmo episódio da Oprah.
Ora bem, frango de fricassé.
Reúno os ingredientes, com ar de entendida.
- Está tudo, só faltam as temidas. - Tremo.
Vou à dispensa e corro as prateleiras.
Nada.
Subo ao escadote, espreitando as prateleiras de cima.
Entretanto, o Reggae escapa-se do meu ombro para casa, soltanto assobios de desagrado pela entreturbação.
Lá vislumbro a pretendida pequena caixa de cartão, escondida por trás de conservas e da garrafeira de reserva do meu pai.
Que tento alcançar, esticando o braço o mais que posso e empinando-me em bicos de pés sobre o escadote.
Está-se mesmo a ver. Desequilíbrio... Derrubo uma pilha de latas que batem e rolam pelo chão, num estardalhaço ensurdecedor, acordando toda a casa. Felizmente, não caio.
- Que se passa? - Pergunta a minha mãe, alertada com o barulho da confusão.
- Nada! Não te preocupes! Só deixei cair umas latas.
Volto a esticar-me, desta vez alcançando a desejada embalagem. Desço do escadote, não sem antes tropeçar em duas ou três latas que almejavam a minha queda.
Empurro as latas ao pontapé para dentro da dispensa, fingindo acreditar que ninguém daria pela desarrumação.
Ora vamos lá a isto.
Coloco o avental e prendo cuidadosamente o cabelo para não ser atingido por vestígios indesejados do preparado.
Da pequena embalagem, retiro um par de luvas de borracha, iguais às utilizadas pelos médicos nas cirurgias.
Coloco-as, compenetrada. A concentrar-me para a díficil operação que se segue.
Escolho uma faca de lâmina afiada. Não era uma faca, era uma catana de desbravar mato. Alexandra, a aventureira na selva intocada. Ali vem o Indiana Jones para a ajudar na nova aventur...
- Ahhh! É verdade! - Largo tudo, corro ao quarto para buscar os óculos de sol mais largos que tenho e regresso.
Inspiro fundo.
"Tem que ser." Arrepio na coluna. "Tem que ser."
- Está tudo bem? - Pergunta a minha mãe, entretanto.
- Sim! Estou quase a pôr o tacho ao lume. - Respondo.
Inspiro fundo. "É desta."
Para terem noção, neste momento, quem entrasse na cozinha encontrar-me-ia de avental Hello Kitty bem apertado, luvas cirúrgicas, catana na mão, coque de bailarina no cabelo e óculos de sol Versace.
A ventilar.
Dirijo-me à caixa junto à janela. Torço o nariz, fecho os olhos, ponho uma mão a custo e retiro duas... arghhhh... duas cebolas.
Tremuras na mão. O corpo todo em convulsões e espasmos.
Corro até à bancada e largo, aflita, as ditas. Corro novamente até à janela, desta feita para respirar ar fresco.
Volto à bancada, agora com uma mola presa no nariz. Inspiro pela última vez.
Empunho a lâmina, fecho os olhos e esquartejo, enojada, as duas cebolas. Golpadas violentas.
Sem conseguir respirar. O rosto verde. Não, o rosto azul. Roxo...
Dos olhos soltam-se lágrimas gordas e sinceras.
Não porque fora atingida pelos sucos vertidos pelo corte dos bolbos, mas porque estava verdadeiramente desgostosa e repugnada com a tarefa.
Termino e deito tudo à pàzada para dentro do tacho.
Aumento o lume, limpo os vestígios do preparado com lexívia, livro-me das luvas e do avental e corro para a banheira a fim de me libertar daquele horror peçonhento que se entranha na pele e na memória.
Com efeito, assim foi.
Duche rápido para esfregar a pele, seguido de banho de imersão.
Banho de imersão relaxante, repousante, imerso, imenso, descansado... demorado.
- Xana? Xana?...
Olhos semi-serrados, já esquecida das cebolas, a brincar com o patinho Qua-Qua, no Lago dos Cisnes.
- MARIA ALEXANDRA, QUE CHEIRO É ESTE???
Era o jantar.
Corrijo, o esturricado.
Que foi directamente para o lixo, quase estragando o tacho, tal era o queimado.
As janelas abertas para entrar ar. O Raggae enfurecido e quase sufocado pelos rolos de fumo preto que preenchiam o ar da cozinha.
- Telepizza, boa noite.
- Estou sim, boa noite. Por favor, são duas pizzas médias com frango, milho, ananás...e SEM CEBOLA!
22 comentários:
A Chef Alexa ainda não conhece aquelas embalagens de cebola picada, não interessa a marca, à venda em estabelecimentos comerciais dedicados a produtos comestíveis, e não só, que por aí abundam?
Pois, digo-lhe, experimente comprá-los, abri-los, e despejar o conteúdo dos ditos na panela, vai ver que gosta!
Eu sou bem mais onion-friendly, desde que descobri as ditas!
Sei, pois.
Mas, cá em casa, quem lida com os bolbos mal cheirosos é a minha mãe.
... Que nada sofre em esquartejá-los sem protecção...
Uiiii que esta imagem foi muito mal escolhida!
Brrrrr... Aquelas faquitas todas a um milímetro da minha pele felpuda...
Em vez de usares um escafandro, para a próxima experimenta picar as cebolas enquanto mastigas uma pastilha elástica. Depois falamos.
Porque é que não compras as refeições Viva da Nobre?
É só por no micro-ondas até fazer plim!!!
Loooooooooooooooooolllllllllllll
O que eu me farto de rir aqui!
Esta Maria Alexandra tem a mania que tem graça.
Como não sabe o que há-de fazer a tanta criatividade produzida pela sua hiper actividade, oferece-nos resmas de prosas deliciosas. E esta de se tentar substituir ao ra-ta-tu-i nem ao diabo lembrava.
Tem a mania e tem mesmo. Graça.
Devo dizer que não conheço esta Maria Alexandra de lado algum.
LINDO! :D
Tens uma excelente veia! Parabéns! Nunca me canso, não paro de rir!
Palminhas sinceras! Plac Plac Plac :))))
realmente estas miúdas de hoje estão a ficar pior do que os homens. Eu a única coisa que concordo é que é uma chatice ficar com as mãos a cheirar a cebola (com o alho é a mesma coisa) e daí que de vez em quando também use as luvas quanto ao resto...
frango de fricassé é uma delícia.. pode ser que para a próxima corra melhor :)
Piston,
Hein? Pastilha? O que é que isso retira o nojo de pegar naquelas coisas de superfície arghhhhhhhhhh?
Estrellinha,
Não me ofendas. Sou uma verdadeira chef! Todos os chefs sofrem precalços...
Pedro Soares Lourenço,
Engraçadinho, o menino! Deixe lá, eu também não conheço a maior parte desta gente de lado nenhum.
Parece que falhei a lição da minha mãe "Não falar com estranhos"...
Maria Ostra,
:-D Essas férias? Bom ter-te de volta, já sentia saudades dos habituais jogos de palavras!
Asdrubal Tudo Bem,
Também uso as luvas para o alho por causa do cheiro mas é uma coisa totalmente diferente! Alho, tudo bem, viva a família! Agora cebolas... ódio visceral desde que me conheço.
Sá,
Tudo o que é feito por estas manzinhas é delicioso, desde que não fique eternamene ao lume ou não caia ao chão!
Também tenho a mania de colocar àgua a ferver para fazer chá e só me lembrar dela quando já evaporou toda... :-D
Existe um truque, mas todos o conhecem, acho.
Dps de ficar com os dedos a tresandar a alho/cebola, podemos abrir a torneira da agua fria. Sob o feixo de agua corrente, colocamos a lâmina de uma faca e, por debaixo desta, os dedos que queremos purificar. É importante não esfregar os dedos uns nos outros. A água corrente, coadjuvada pelo efeito mágico da lâmina, tira o cheiro. Resulta.
errata: mãozinhas.
Luis,
E se a isso juntares uns pozinhos de morcego e um ramo de alecrim, ficas com uma bela mezinha para fazer crescer o cabelo. Já não há doping que vos apanhe!
tá-se mesmo a ver que foi dos óculos escuros :-)
Pelo que ouvi dizer, evita a comoção...
...engraçadinho..., eu? Nááá
...estranho? Eu..., náááá
Este é para ouvires
http://www.youtube.com/watch?v=Btx2eiQ2gKs
e este é para prestares atenção
http://www.youtube.com/watch?v=mFNuJX2zQtM
Abraços
Tavguinu,
A culpa foi do Qua-Qua que me distraiu...
Piston,
Pastilha evita comoção?? E uma pancada na cabeça com um jornal enrolado, hein?!
Pedro Soares Lourenço,
:-D
Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
Paulo Vinhal,
Ena, ena que adoro quando me dão música (E me enviam latas de leite condensado pelo correio)!
LOL... Alexandra, tá do melhor. Tirando a parte do tacho, lamento ouvir:P
Se calhar não era mesmo mal pensado era teres umas aulas com o Ratatui. :)
Mas eu cozinho tãoooo bem!
Xaninha,
ouve a gione, há cebola picada e às rodelas de várias marcas e linha branca e quanto à tua mãe faz-lhe um up grade aos bolbos que ela agradece.
Bjos
Tita
Tita,
Como se os pais da namorada do meu irmão todos os fins-de-semana oferecem-nos couves, fruta, cebolas e afins, tudo vindo da terrinha?
Faça o que lhe disse...
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