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Agora, com V. licença, vou ali chorar e já volto.
Logo na segunda-feira, DIA EM QUE ME VIM EMBORA, sim, segunda-feira de manhã, em que andei no corre-corre, últimas reuniões, compras, últimos contactos e blá blá, sou abordada por não um, não dois, não três mas cinco, CINCO deuses do Olimpo, os quais sairam de cena de lágrimas nos olhos quando ouviram um "Vou-me embora hoje mesmo, daqui a duas horas e não tenho tempo nem para chope.".
Então o último, que me abordou na Osklen, meu Deus, foi feito e criado por ti, só pode!
Hoje, o despertador tocou às sete horas e, durante cinco minutos, tentei perceber o que era exactamente aquela música.
Se era uma ideia, um seguimento de raciocínio ou, simplesmente, uma forma peculiar e extemporânea de Deus mostrar-me a luz.
Às sete de cá, lá são três da manhã.
Tenho um medo que me pelo das ciganas.
Não é racismo. É medo mesmo.
Por mais habituada que esteja à sua presença, desde os tempos em que visitava as feiras no Alentejo, vejo uma e atravesso para o outro lado da estrada.
Aqui há uns dias, alí mesmo ao pé do Marquês, sou abordada por uma, com intenções de me ler a sina.
Recusei veentemente e dei corda às pernas, não fosse ficar sem os euros que tinha na carteira, os brincos que trago nas orelhas e os cabelos que trago na cabeça, por estorquimento emocional.
Enquanto fujo, ela avisa:
"Venha cá! A menina vai fazer uma viagem e encontrar o amor da sua vida!"
Hoje, novamente de manhã, junto ao Atrium do Saldanha, cruzo-me com outra.
"A menina não quer ler a sina?" "Dê cá a sua mão, que lhe leio a sina."
Faço o sorriso mais simpático (pragas de ciganas é que não mesmo e convém não melindrar as ditas) e deixo cair um "Não, obrigada. Estou cheia de pressa!", enquanto acelero em direcção ao Metro.
"Mas olhe, deixe-me só fazer um aviso! Deixe só..."
Sem resposta, naturalmente. A essa altura já me encontrava na terceira carruagem do metro das 9h45, escondida sob um sovaco alheio em hora de ponta.
Tenho receio destes avisos, destas previsões da inveja que me rodeia e das amigas falsas. Mexe comigo.
Agora, segunda-feira lá embarco. Não contem em receber mais posts que este será o derradeiro antes da cruzada.
Vou apenas com uma espectativa.
Descobrir se o lugar comum de um amor e uma cabana é verídico.
Descobrir se, realmente, as previsões da mulher estão correctas, encontrarei o amor e largarei tudo para assentar no Rio.
Mesmo que isso signifique acordar numa encosta da Rocinha, em troca de um amor cativo e forçado de espancamento, nódoas negras, cortes de navalha e queimaduras de cigarros.
Um amor tão belo que se traduzirá num regresso com um rim a menos ou num ingresso na lista da P.J., mesmo ao lado do Rui Pereira e da Maddie.
Isso ou descubro o raio da cigana para conhecer qual era o aviso.
Palpita-me que terei um dia longo pela frente.