Hoje, acordei com uma sensação diferente. Ou o quarto cheirava a mar (facto interessante, dado que ainda me encontro a uns bons kilometrozitos da costa) ou eu estava mais leve, mais feliz, mais apaixonada pela vida.
Puxo as persianas, abro a janela e as nuvens ameaçadoras confirmam-me que não eram os raios de sol que me despertavam tal sensação. Fixo os montes verdejantes já demasiadamente salpicados pela construção humana, viro-me para o meu cavalete e… “É isso! Vou pintar!”. Ansiosa, despacho o trabalho de manhã e reservo a tarde para uma bela sessão de pintura.
Remexo os CD’s empilhados ao acaso, escolho Zero Seven e ligo a aparelhagem. Embriagada pelas diferentes matizes, formas e volumes que me rodeiam, retiro do armário o estojo de pintura a óleo. Abrir aquela caixa de madeira robusta relembra-me o prazer que tive aos quatro anos, na noite de Natal, ao desembrulhar um pequeno mas muito esperado estojo de aguarelas. Preparo uma tela branca, fixo-a no cavalete, retiro a paleta e escolho cuidadosamente os pincéis e uma espátula de ponta redonda. Encho um godé duplo com óleo de linhaça e terebintina – “não esquecer a regra gordo sobre magro” - recordo, olho a medo para o secante de cobalto e resolvo deixá-lo de parte.
Coloco uma esponja e um pano a jeito, protejo o chão do quarto com folhas de jornal (para não ouvir as habituais queixas, pela enésima vez) e debruço-me sobre os pequenos tubos de tinta, perfeitamente alinhados por ordem cromática. “Ora bem, branco titânio, amarelo cádmio, amarelo ocre, laranja carne, vermelho cádmio, carmim, laca magenta, azul cobalto, azul turquesa, azul da Prússia, terra verde, marron de garança, terra siena natural, gris de payne, violeta escuro… preto marfim… Mas o que é que eu vou fazer?”
Boa pergunta. Fiquei a pensar nela durante a tarde inteira. Dei voltas e voltas. Lembrei-me de tudo e mais alguma coisa mas nada me despertava. Lá para as vinte horas, guardei as tintas, a paleta, os godés, os óleos e terebintina, embrulhei os pincéis, dando especial atenção aos de pêlo de marta. Tudo com a mesma reverência mas zero alento.
Esta noite, quando me deitar, VOU REZAR para que, para a próxima vez que for bafejada com desejos de pintar, ao menos que também seja iluminada com uma ideia concreta do que fazer!
Puxo as persianas, abro a janela e as nuvens ameaçadoras confirmam-me que não eram os raios de sol que me despertavam tal sensação. Fixo os montes verdejantes já demasiadamente salpicados pela construção humana, viro-me para o meu cavalete e… “É isso! Vou pintar!”. Ansiosa, despacho o trabalho de manhã e reservo a tarde para uma bela sessão de pintura.
Remexo os CD’s empilhados ao acaso, escolho Zero Seven e ligo a aparelhagem. Embriagada pelas diferentes matizes, formas e volumes que me rodeiam, retiro do armário o estojo de pintura a óleo. Abrir aquela caixa de madeira robusta relembra-me o prazer que tive aos quatro anos, na noite de Natal, ao desembrulhar um pequeno mas muito esperado estojo de aguarelas. Preparo uma tela branca, fixo-a no cavalete, retiro a paleta e escolho cuidadosamente os pincéis e uma espátula de ponta redonda. Encho um godé duplo com óleo de linhaça e terebintina – “não esquecer a regra gordo sobre magro” - recordo, olho a medo para o secante de cobalto e resolvo deixá-lo de parte.
Coloco uma esponja e um pano a jeito, protejo o chão do quarto com folhas de jornal (para não ouvir as habituais queixas, pela enésima vez) e debruço-me sobre os pequenos tubos de tinta, perfeitamente alinhados por ordem cromática. “Ora bem, branco titânio, amarelo cádmio, amarelo ocre, laranja carne, vermelho cádmio, carmim, laca magenta, azul cobalto, azul turquesa, azul da Prússia, terra verde, marron de garança, terra siena natural, gris de payne, violeta escuro… preto marfim… Mas o que é que eu vou fazer?”
Boa pergunta. Fiquei a pensar nela durante a tarde inteira. Dei voltas e voltas. Lembrei-me de tudo e mais alguma coisa mas nada me despertava. Lá para as vinte horas, guardei as tintas, a paleta, os godés, os óleos e terebintina, embrulhei os pincéis, dando especial atenção aos de pêlo de marta. Tudo com a mesma reverência mas zero alento.
Esta noite, quando me deitar, VOU REZAR para que, para a próxima vez que for bafejada com desejos de pintar, ao menos que também seja iluminada com uma ideia concreta do que fazer!