Se há coisa que eu evito, fujo a sete pés, pago fortunas para alguém ir em meu lugar, é ir à dependência bancária do meu banco, que fica mais próxima de casa.
Eu ando kilómetros, apanho o metro, o autocarro, faço o que for preciso, dou um salto a Lisboa só para não ir à dependência bancária aqui na periferia suburbana.
Maluquice? Leite condensado a mais que afectou ou meus neurónios açucarados?
Nada disso. O que verdadeiramente me assola e afugenta é o facto de os funcionários da dita tratarem-nos com a mesma reverência com que se trata um grande caloteiro. Pior, um assassino. Um degolador violento à solta, atrás de mulheres e criancinhas. Olham para a minha conta “Conta universitária? Sim, pois, andas a estudar para catedrática, não?”, fazem trejeitos com a cara e, de repente, parece que somos teletransportados para o mundo das repartições das finanças, o pior pesadelo do atendimento ao público. Todavia, os seus amigos são recebidos com honras de chefe de estado.
Data: Príncípios de Setembro de 2006
Hora: Por volta das 10h30
Local: A dita dependência
A pessoa que estava à minha frente já havia sido atendida mas o funcionário “ignorava” a minha presença. Cinco minutos depois. – Próximo!
- Bom dia, venho fazer um depósito. - Lanço em tom cortante, antecipando já o habitual discorrer verberado de comentários insolentes e má educação.
A criatura aceita o cheque, observa o valor, esbugalha os olhos e, inesperadamente irrompe num tom de simpatia nunca antes visto.
- Sim senhora, que bom, deve estar toda feliz, agora já pode ir de férias! – Espanto! Será nova tática?
- Já fui de férias. – Ergo a cabeça. “Ai, agora queres ser meu amigo?”
- Sim, mas agora pode tirar umas férias de sonho! Não é todos os dias que se recebe uma quantia destas! – O indivíduo babava com o entusiasmo e graxa desavergonhada. – Ou então tirar mais umas semanas de férias, fazer uma grande viagem!
- Acha? As minhas férias foram excelentes. Mas... é capaz de ter razão. Sim, vendo bem, é quase um salário mensal – Ripostei com indiferença. Era mentira. Descarada! Dias antes, dera pulos de alegria ao receber tal correspondência. Mas não ia deixar aquele vil bancário levar a dele adiante. Ai não ia, não!
Desejei bom dia, guardei o talão de depósito e dirigi-me à porta. Como uma senhora.
6 comentários:
Lindo!
Gostei do que vi por aqui. Acho que vou passar mais vezes!
Andas rica, tu!
Agora esquiva-te de pagar o jantar aos amigos do peito...
E tu se não saísses como uma senhora...
Tenho saudades tuas
Não percebo é como é que ele te tratava assim. Com certeza nunca reparou nas tuas mãos.
Guigas,
Pago-te o jantar quando quiseres, de preferência ali naquele edificio esplendoroso sito na Cidade Universitária em frente à Reitoria. Também... não ganhei o euromilhões!
Anónimo,
Também tenho saudades tuas, mais ainda teria se soubesse quem és!
Jorge,
Por várias vezes tentei essa manobras mas, pelos vistos, apenas funciona com brasileiras em pleno metro em andamento (e comigo a dormir)!
Anónimo I (Desculpa... os últimos serão os primeiros!!?)
Muito obrigada! Como eu gosto de elogios! Se bem que críticas negativas também serão aceites. O pior (e o mais provável)que pode acontecer é eu não fazer caso delas. Passa quando quiseres mas atenção aos diabetes!
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