quinta-feira, junho 30, 2016

E vão dez anos a fugir dos maridinhos



Estava eu a lambuzar-me com a sardinha e oiço:

Ó "mnina", ponha aqui uma moeda no Santo António, para lhe arranjar um maridinho!"

 Olho em frente. A preceito, erguia-se um altar, com o dito Santo e várias caixas para moedas, tudo enfeitado a rigor.

Levanto muito as sobrancelhas e, sem pensar, deixo sair um:

- Eu? Cruzes credo!

- Mas um maridinho, "mnina"! O Santo Antoninho arranja!
 
Engoli a custo o pão, o lombo da sardinha e umas tantas espinhas. Não eram as espinhas. Era a dor do maridinho. 

Maridinho? 

Em velocidade da luz, vislumbro as imagens na minha cabeça. O pedido. Ele de joelhos. O anel. O casamento. Ele, embevecido e de olhos muito brilhantes a levantar-me o véu branco e imaculado, que cobria o rosto da sua formosa e inteligente noiva... O arroz, à saída da igreja...

Arroz? 

Só se for de marisco!

Deixei cair a sardinha e saí a correr. Parei. Voltei atrás, agarrei no copo, emborquei a ginjinha de uma vez.

- Maridinho, o tanas! - Cuspi a espinha e as escamas que quase sufocavam a minha garganta. - Já cá não me apanham!





*Ai, os Santos Populares. A minha festa preferida do ano. Até para o ano. (Santo António, atendei a outras moças. Esta está feliz e a recuperar-se. Não precisa de maridinho. Precisa dela de volta.) 

** Aproveito para anunciar uma gliceméride que é um marco. O Leite Condensado faz hoje dez anos.

 Dez (10!) anos! 

Assustador, não? 

Há meses, pus-me a lê-lo de uma ponta à outra e nem pude acreditar. Tanta coisa que não me lembrava e que recordei, como se estivesse naquele momento a escrever aquelas palavras. 

Depois, ver toda a evolução da "linha editorial", que espelhou todos os momentos que vivi, incluindo os mais terríveis. Os silêncios de muitos meses e o que significaram. O quanto marcaram-me.

Dez (10!) anos de pessoas que entraram na minha vida e várias não saíram mais (Nem quero que saiam, leram bem?). De momentos únicos. Muitas e muitas histórias. Risos, gargalhadas, tristezas, dor, lágrimas. Mas este blogue foi sempre das gargalhadas. Do açúcar. É a eles que pertence.

Por isso, estes dez (10!) anos não poderiam vir em altura melhor. 

Estou a recuperar-me. Estou a ter-me de volta. Tão bom. Não acreditava ser possível. 

Há dez (10!) anos, era uma miúda de vinte e sete anos. Uma miúda alegre, divertida, ingénua e com demasiada imaginação. Hoje, com trinta e sete, vejo os textos e vejo a infantilidade. A juventude. A ingenuidade.  Os olhos sorridentes (Quem me conhece sabe que sorria a rodos.). 

Mas sabem que mais? A miúda cá está. De volta. Dança, prega partidas, ri à gargalhada e esquece-se que já tem rugas e alguns cabelos brancos. Sou e serei sempre uma miúda. Já o prometi. Não te deixo ir embora novamente, miúda. Gosto de ti assim. És feliz assim.

Parabéns, Leite Condensado às Colheradas. Mexeste e brindaste a minha vida de uma forma única. Apareceste nos primórdios dos blogues, arrebataste, dormiste, hibernaste, esperneaste sobreviveste a custo às roupas e às modices e à profissionalização daquilo que era puro gosto, prazer e genuinidade. Cá andas, repleto de vontade de retornar àquele estilo, alérgico à comercialização da tua essência.

À tua!

És do caraças.




Fim de Santos



Uma pessoa vai à Graça, vai à Vila Berta em busca de uma sardinha e nada.

Nem uma bandeira, nem uma barraquinha, nem um cheiro a espinha de sardinha.

Alfama é linda!

‪(E depois da sardinha, cheguei a casa e comi pizza. O que querem? Este corpinho lindo não vive do ar.)

quarta-feira, junho 22, 2016

Não podes mudar a percepção que os outros têm de ti apenas a forma como te apresentas

 
Li a mensagem e até me vieram as lágrimas aos olhos. Caramba, não sou nada disso. Pensei que era em miúda (Lá para os vintes) mas aprendi que não o sou.

Sofia, já me elogiaste como nunca ninguém o fez e não foi a primeira vez. Fico assombrada. Nunca mesmo alguém me elogiou assim. Não sou nada disso. Aliás, acho que tu és isso.

Enfim, tenho uma etiqueta no blogue (No verdadeiro, não o Facebook) que é "Não podes mudar a percepção que os outros têm de ti apenas a forma como te apresentas". (Dizia o Tim Gunn há muitos anos, num programa qualquer.). Quer dizer tudo e quer dizer nada. Somos o que os outros vêem ou seremos o que nós vemos em nós?

Gostaria de ser essa pessoa mas não sou. Primeiro, porque já fiz muita porcaria. Depois, não sei bem porquê, estavam lá todas as condições mas tudo falha.

O meu irmão é daquelas pessoas que tem uma sorte brutal. Tudo é ouro, seja onde pise ou espirre. Não o desmereço no seu empenho, atenção, mas, até naquelas coisas parvas, ele tem sorte.

Já eu, bem, sou o oposto. O cúmulo do azar. Aquela pessoa a quem tudo acontece, corre mal e para fazer um caminho que em recta demoraria cinco segundos, a recta está cortada em todos os sentidos e tenho de tomar a estrada acidentada, que demora duas horas. Só que comigo demora seis. (Furou o pneu, caiu uma árvore na estrada, a gasolina acabou - Na verdade, o contador avariou e não pude precaver-me como faço sempre. - ligaram a dizer que tinha de voltar atrás, para ir buscar um documento, que afinal também seria necessário...).

Por isso, acho difícil ser essa pessoa. Também não sou santa. Nem sempre quis ajudar. Tive alturas em que só o meu umbigo interessava. Muito menos bonita (Olha, hoje, regressei a casa a achar-me o patinho mais feio do mundo. Acho que as pessoas até olhavam para mim a estranhar, de tão encolhida que estava.) Que pato despenado, sem graça, acabado que nem para o arroz serve. Engraçada ainda poderia aceitar mas... Não. Magra... A maior falsa magra da história, com uns ossos de tão fininhos que só dão problemas e não me permitem dançar como o espírito gostaria. Tenho fases. No Inverno visto S/M, no Verão XS. Bem, o calor já poderia ter chegado antes e não sei se é da medicação também mas, a realidade é só uma. Não caibo na minha roupa de Verão. Ok, não me posso queixar. O meu peso é normalíssimo, ainda assim tão falsa mas tão falsa magra. (Não me queixo. A estrutura fininha salva-me. Nisso tive sorte. - Ou não porque não aproveito e só faço asneiras.) Dava jeito caber na roupa porque não quero passar o Verão de calças de ganga e não tenho dinheiro para comprar roupas novas.

Ora, porquê este desabafo? Porque estou tão longe de ser isso tudo que dói. Queima. Engraçado. Eu é que sempre te vi assim. Mesmo nas fases compulsivas, sempre te vi assim. Em tudo. Sempre pensei "A Sofia é das mulheres mais giras, mais cool e mais interessantes que conheço!" Dizes isso e sinto-me um flop. Também porque não consigo responder-te como deve ser à tua mensagem. Hoje, não. Só sei dizer, muito obrigada, querida Sofia mas tu és tudo isso e muito mais. Eu... Eu sinto-me uma fraude. Depois, porque estava a precisar deste desabafo, assim ao mundo. De admitir que estou tão longe de ser perfeita mas tão longe. Bem, nem de perfeita. De admirável. É verdade. Podem dizer que sou coração disto, amiga daquilo mas já fiz tantas mas tantas merdas na vida. Já fiz bastante mal. Que me envergonham, sim. Isto não é auto-flagelação. É um reconhecimento. Tenho de saber admitir que errei. Tenho de saber admitir quem não sou.

Este blogue chama-se Leite Condensado às Colheradas não só porque adoro comer leite condensado às colheradas, até ver o fundo da lata, mas também porque sempre vivi mais na imaginação do que na realidade. Foi assim que ele surgiu. Agora, vai fazer dez (DEZ!) anos. Está na altura de crescer e de deixar de açucarar na mente. Ou o faço na realidade, ou sou um flop. E há tanta mas tanta coisa que preciso de fazer. Para chegar lá. Aos pés desse cool, pelo menos.

Sofia, amanhã tentarei responder, como mereces. Juro. 
 
(Hoje, fica só este mea culpa. Meo ego.) 

terça-feira, junho 07, 2016

Chef Alexa II

 
 
Acabei de fazer um sumo de melancia que ó! Deviam ter visto. Aquele cor-de-rosa vibrante a prometer ondas de prazer às papilas gustativas.

Um copo daqueles bem grandes cheio. Tão bonito que quase que me apeteceu fotografá-lo.

Quase. Porque a gula foi superior e foi aí que fiquei a saber que sabia a casca com relva.

#juroquetireioscaroçostodos #nãopercebo

domingo, junho 05, 2016

Fins de semana desses no Facebook





Caríssimos amigos, leitores, seguidores e pessoas que, coitadas, caem aqui de paraquedas sem o paraquedas,
Só para avisar que também tive um fim-de-semana de sol, praia, sardinhas, sangria, caracóis, mergulhos e a Bica é linda.


Verbalizando

"Lember" aquele verbo que automaticamente faz com que a minha cabeça entre num turbilhão e ecoe "Porquê?" "Porquêêê???"
 
Nunca irei compreender.

sábado, junho 04, 2016

Na pele de uma bailarina

Toda a gente a pesquisar o que são deboulés.

Da parte de quem os faz a perspectiva é mais ou menos esta.

‪#‎beberparaquê‬ ‪#‎hajafoco‬



quinta-feira, junho 02, 2016

MORTE À CALÇADA PORTUGUESA


Hoje, quando ia a sair para levar a Cacau à rua, vinha a filha de uns vizinhos a chegar, com o bébé nos braços, que tropeçou na malfadada calçada.

Para não magoar o bébé, caiu bastante mal, torceu o pé e caiu de costas. Começou a chorar de dores e entregou-me logo o miúdo, que também chorava, para os braços. Felizmente, para ele, foi apenas um susto e sossegou logo nos meus braços. Já ela, ficou com um entorse valente no pé e sabe-se lá mais o quê nas costas.

Posto isto, quando é que arrancam de vez esta porcaria?

Isto não é uma calçada, não é um pavimento. É um instrumento de tortura.

Estou saturada de assistir a 38495894584968 quedas, lesões e ferimentos. Estou saturada de ver esta porcaria a dar cabo da vida das pessoas e acabar de vez com a qualidade de vida aos idosos porque, nessa idade, uma perna, braço, cabeça ou bacia partida significa o fim de muita coisa.

Estou saturada de ver as pessoas a fazerem equilibrismo para se manterem em pé. De ver a acessibilidade negada a quem anda de cadeiras de rodas ou tem dificuldades de locomoção.

Eu própria tenho uma cicatriz de seis centímetros no joelho esquerdo, que não me deixa esquecer uma queda, cujo resultado foram uma série de pontos internos e externos e várias semanas sem poder andar. E sim, estava de sapatos rasos.

Quando é que percebem que a questão não é a manutenção? É uma pedra escorregadia, onde o passar dos anos só o piora. São cubos pequenos mas que, por mais alinhados estejam, vão dar sempre azo a muitos acidentes.

Quando é que passamos de vez para o século XXI? Também já tivemos o tempo da terra batida e o que mais. Quando é que olham para outras cidades e países e percebem que o objectivo de um pavimento é facilitar a locomoção? Madrid aqui tão perto tem um pavimento excelente e em lado algum impossibilita uma cadeira de rodas de circular.

Sim, também gostaria de andar de saltos sem arriscar ficar com os pés, joelhos e o que mais feridos, torcidos ou partidos, cada vez que saio à rua. Ora que grande treta! Isso acontece até de ténis.

Se é bonita? É! Mas arranquem-na de vez e coloquem-na num museu para admirar. Coloquem a legenda "Era sobre este instrumento de tortura que os portugueses tentavam deslocar-se e, como consequência, muitos sofreram na pele e nos ossos a sua beleza. Arranquem-na! Pobres brasileiros que herdaram esta porcaria, ainda mais perigosa num clima húmido
.
Arranquem-na! Arranquem-na de vez e passemos ao século XXI. Coloquem-na num museu.

Arranquem-na do país inteiro. Para que não tenhamos de assistir ou protagonizar mais episódios como o de hoje.

Arranquem esta porcaria de vez e terminem com o suplício que é caminhar sobre ela!

quarta-feira, junho 01, 2016

Dia da Criança



Após ver tanta foto dos amigos, no Facebook, quando eram crianças belas, fofas e adoráveis, cumpre perguntar:

O que correu mal?