quarta-feira, junho 22, 2016

Não podes mudar a percepção que os outros têm de ti apenas a forma como te apresentas

 
Li a mensagem e até me vieram as lágrimas aos olhos. Caramba, não sou nada disso. Pensei que era em miúda (Lá para os vintes) mas aprendi que não o sou.

Sofia, já me elogiaste como nunca ninguém o fez e não foi a primeira vez. Fico assombrada. Nunca mesmo alguém me elogiou assim. Não sou nada disso. Aliás, acho que tu és isso.

Enfim, tenho uma etiqueta no blogue (No verdadeiro, não o Facebook) que é "Não podes mudar a percepção que os outros têm de ti apenas a forma como te apresentas". (Dizia o Tim Gunn há muitos anos, num programa qualquer.). Quer dizer tudo e quer dizer nada. Somos o que os outros vêem ou seremos o que nós vemos em nós?

Gostaria de ser essa pessoa mas não sou. Primeiro, porque já fiz muita porcaria. Depois, não sei bem porquê, estavam lá todas as condições mas tudo falha.

O meu irmão é daquelas pessoas que tem uma sorte brutal. Tudo é ouro, seja onde pise ou espirre. Não o desmereço no seu empenho, atenção, mas, até naquelas coisas parvas, ele tem sorte.

Já eu, bem, sou o oposto. O cúmulo do azar. Aquela pessoa a quem tudo acontece, corre mal e para fazer um caminho que em recta demoraria cinco segundos, a recta está cortada em todos os sentidos e tenho de tomar a estrada acidentada, que demora duas horas. Só que comigo demora seis. (Furou o pneu, caiu uma árvore na estrada, a gasolina acabou - Na verdade, o contador avariou e não pude precaver-me como faço sempre. - ligaram a dizer que tinha de voltar atrás, para ir buscar um documento, que afinal também seria necessário...).

Por isso, acho difícil ser essa pessoa. Também não sou santa. Nem sempre quis ajudar. Tive alturas em que só o meu umbigo interessava. Muito menos bonita (Olha, hoje, regressei a casa a achar-me o patinho mais feio do mundo. Acho que as pessoas até olhavam para mim a estranhar, de tão encolhida que estava.) Que pato despenado, sem graça, acabado que nem para o arroz serve. Engraçada ainda poderia aceitar mas... Não. Magra... A maior falsa magra da história, com uns ossos de tão fininhos que só dão problemas e não me permitem dançar como o espírito gostaria. Tenho fases. No Inverno visto S/M, no Verão XS. Bem, o calor já poderia ter chegado antes e não sei se é da medicação também mas, a realidade é só uma. Não caibo na minha roupa de Verão. Ok, não me posso queixar. O meu peso é normalíssimo, ainda assim tão falsa mas tão falsa magra. (Não me queixo. A estrutura fininha salva-me. Nisso tive sorte. - Ou não porque não aproveito e só faço asneiras.) Dava jeito caber na roupa porque não quero passar o Verão de calças de ganga e não tenho dinheiro para comprar roupas novas.

Ora, porquê este desabafo? Porque estou tão longe de ser isso tudo que dói. Queima. Engraçado. Eu é que sempre te vi assim. Mesmo nas fases compulsivas, sempre te vi assim. Em tudo. Sempre pensei "A Sofia é das mulheres mais giras, mais cool e mais interessantes que conheço!" Dizes isso e sinto-me um flop. Também porque não consigo responder-te como deve ser à tua mensagem. Hoje, não. Só sei dizer, muito obrigada, querida Sofia mas tu és tudo isso e muito mais. Eu... Eu sinto-me uma fraude. Depois, porque estava a precisar deste desabafo, assim ao mundo. De admitir que estou tão longe de ser perfeita mas tão longe. Bem, nem de perfeita. De admirável. É verdade. Podem dizer que sou coração disto, amiga daquilo mas já fiz tantas mas tantas merdas na vida. Já fiz bastante mal. Que me envergonham, sim. Isto não é auto-flagelação. É um reconhecimento. Tenho de saber admitir que errei. Tenho de saber admitir quem não sou.

Este blogue chama-se Leite Condensado às Colheradas não só porque adoro comer leite condensado às colheradas, até ver o fundo da lata, mas também porque sempre vivi mais na imaginação do que na realidade. Foi assim que ele surgiu. Agora, vai fazer dez (DEZ!) anos. Está na altura de crescer e de deixar de açucarar na mente. Ou o faço na realidade, ou sou um flop. E há tanta mas tanta coisa que preciso de fazer. Para chegar lá. Aos pés desse cool, pelo menos.

Sofia, amanhã tentarei responder, como mereces. Juro. 
 
(Hoje, fica só este mea culpa. Meo ego.) 

Sem comentários: