domingo, setembro 01, 2013

Ai os piropos! Piropos?

Tanta celeuma sobre os piropos e honestamente não é o assunto que mais me preocupa (Aliás, confesso que nem olhei bem para a proposta do BE, tenho apanhado o assunto no ar mas amanhã lá o farei.) mas preocupa-me sim, que não se dê a necessária reflexão aos assuntos. 

Preocupa-me que se parta imediatamente para o gozo e banalização de certas coisas e assuntos como se de um programa de reality show da televisão se tratasse. 

Preocupa-me ainda mais mulheres supostamente inteligentes que rapidamente passem a mulheres "burras" por, pura e simplesmente, não dedicarem um segundo a usar um dos seus bens mais sagrados (Sim, o cérebro. O nosso é mais pequeno do que o dos homens mas faz mais conexões, por isso, dêem graças e usem-no.) e a ter uma pequena reflexão que seja. preocupa-me que estas mulheres, ditas inteligentes, não reflictam e, por consequência, não saibam distinguir um piropo de um comentário dirigido para rebaixar e humilhar.
Meninas, senhoras, (Porque são o maior alvo.) a maior parte das coisas que ouvem na rua não é para vos elogiar mas sim rebaixar. Chamar a isso um piropo é, no mínimo, burrice. Sequer é correcto. Ora vejamos.

Diz o Priberiam sobre o piropo:

piropo |ô|

s. m.

1. A cor do fogo.

2. Liga de cobre e ouro.
3. [Joalharia]  Variedade de pedra preciosa.
4. [Popular]  Galanteio; elogio; frase amável ou lisonjeira dirigida a alguém.
Plural: piropos |ô|.


Tomemos os seguintes casos práticos:
A) "És muito bonita.", "És simpática." "Tens os olhos bonitos." 

Não me parece difícil classificar todas estas frases como piropos.

B) "Ó Boa, com esse cu deves cagar bonbons.", "Partia-te a bilha toda.", "Que lindas pernas: a que horas abrem?"

Bem, não sei quanto a vocês, mas tenho uma urticária imensa quando se aceita isto como elogios. Conhecem alguém que tenha conseguido facturar depois de proferir uma destas?  Querem estes sujeitos agradar-vos com estas palavras? Quem o profere sabe perfeitamente que não vai conseguir nenhuma simpatia do lado de lá sequer. Isso parece-me claro. Não vos parece? Então por que o fazem? Qual é a intenção?

É mesmo elogiar-vos? São isto piropos ou formas de humilhar?

A questão é mesmo esta. A intenção. O que é dito e com que intenção.

 Ah, o assunto não é sério? Se não nos levarmos a sério, admirem-se que continuemos a não ser levadas a sério, a receber menos, a sermos discriminadas, por aí fora. No mínimo, reflictam. O cérebro não se desgasta ao ser usado. Pelo contrário. É uma máquina que, para funcionar, precisa de estar sempre a ser oleada.

Se é necessário legislar sobre o assunto? 

Bem, toda a gente fala no assédio como se fosse um crime tipificado no nosso Código Penal. Basicamente, é o resultado dos filmes americanos. Conhecem a nossa realidade? O que está descrito no nosso Código Penal? Sabem que o que não for tipificado no código não é crime e, por consequência, não é punível?

A verdade é que o assédio, como o imaginam, não está previsto no Código Penal, minha gente.

Apenas é previsto para os casos em que existem hierarquias, familiares ou profissionais, ou para os actos de carácter exibicionista ou quando a pessoa é constrangida a CONTACTO de natureza sexual. Sequer existe a determinação "assédio".

Portanto se alguém vos assediar na rua, no metro, seja onde for, desde que não exibam o pirilau ou o rabo ou vos dêem um valente apalpão nas partes mais íntimas, sai sempre incólume, por muito que vos espezinhem.
Se isto cabe nos insultos? Bem, dificilmente. Insultos, assim em conversa de leigos, é chamar-vos nomes. Aí já podem suspirar de alívio e correr para o tribunal. Se alguém clamar "Sua puta!", estão safas. Se não, esqueçam.

Quanto à importância, parece-me que antes da gozação a reflexão é mais importante.

Ouvir uma frase daquelas pode não parecer muito. Deixa-vos mal-humoradas por um dia, umas horas, uns momentos. Pode não parecer muito. Agora, uma coisa garanto. Se alguém resolver importunar-vos e perseguir-vos na rua durante duas horas ou o dia inteiro a dizer-vos os tais "piropos", dificilmente poderão fazer alguma coisa. Já aquela história de pegar na carteira e arremessá-la à cabeça do "trolha" pode sair-vos caro porque, aí sim, quem pode apresentar queixa é o(a)espertinho(a), por agressão física ou tentativa de agressão física. Interessante, não?

Mas claro, é tudo uma risada, embora lá gozar com isto dos "piropos".

Basicamente, e voltando ao universo feminino, uma vez que é o maior alvo destas agressões, se queremos ser importantes, se queremos ser respeitadas, temos de ser as primeiras a respeitar-nos e dar-nos importância. Fora desse universo, bem a questão é a mesma. São agressões. Não são elogios. Até há pouco tempo a questão do Bullying também era ignorada.

Amanhã logo lerei sobre e aprofundarei o assunto. De qualquer forma, independentemente das propostas concretas que existam ou possam vir a existir, antes da galhofa, parece-me mais importante a reflexão.

Era "só" isto. Parem para pensar, sim?

Obrigada.

P.S. -Já são duas da manhã e amanhã é Segunda-feira. F***-se! Amanhã farei a revisão deste texto. Gralhas, erros, falhas gramaticais deverão ser descontadas.

P.S.2 - Não, amanhã não é Segunda-feira! Amanhã (Hoje) é Domingo! Ainda assim queria ir ao ginásio de manhã cedo. F***-se!

6 comentários:

tummytuck disse...

O melhor piropo da história remonta à década de 90, na construção dos edifícios das imediações da Expo98. Um obral diz a uma elegantérrima - "ó boa, chupava-te o que mais gostas!" A senhora responde: "ah sim? Chupavas a gaita do meu marido?". Houve aplausos!!!

Ana das Pontas disse...

Missão cumprida. Fizeste-me pensar, sim senhora. Não tinha tido em conta algumas coisas que disseste. No fundo creio que a culpa é, em grande parte, dos meios de comunicação, que em vez de esclarecerem, como fizeste, deturpam e orientam para o lado que mais lhes interessa.

Cá beijoca. Xuac.

Smelly Cat disse...

Obrigada por este texto! Reflecte aquilo que eu penso! Se as pessoas se dedicassem a pensar um bocadinho pela sua própria cabeça, acho que também chegaria a esta conclusão!

E, mais do que legislar, acho que esta iniciativa do BE (que também não conheço em profundidade) pretende, sim, que se faça uma reflexão séria sobre este assunto. E, pelas reacções que eu já pude ler, quer nos comentários deixados em sites de jornais, quer em blogs ou facebooks, isto é algo que parece que está de tal forma entranhado na mentalidade portuguesa que só a mera abordagem do assunto é logo alvo de gozo. E isso é que eu não acho nada normal. Sobretudo dizer-se que a senhora que teve esta ideia fê-lo porque é feia e ninguém lhe salta em cima, perdoem-me a expressão. E estes comentários vêm de mulheres! Enquanto as mulheres forem as suas próprias inimigas, como é que podemos alterar esta situação?!

Mais uma vez, parabéns e obrigada pelo texto. Já fez o meu dia. Fico feliz por não ser a única a pensar assim!

snowgaze disse...

Excelente texto, obrigada. :)
Estou fartinha de ler comentários parvos ao assunto.

A.João disse...

Apesar de seguir vários blogs é raro comentar...mas hoje deu-me para isto.
Começando pela tal senhora do BE, de facto vi o que ela disse e no momento achei que havia qualquer coisa que não batia certo...talvez o tom arrogante... depois nem me dei ao trabalho seguir o assunto nas redes sociais ou noutro lugar qualquer. Vou falar por mim... nunca dirigi uma frase feia para uma mulher, sou contra isso, e piropos a desconhecidas nem pensar.... por vezes chego ao local de trabalho e digo às minhas colegas «Bom dia Princesas» e sei que elas gostam, também já as conheço há mais de vinte anos. Mas sei que em certos países se isto que eu digo não é crime é quase, e não gostaria de viver num País assim. Por isso acho que tem de haver muito debate

A. disse...

É só pra dizer que gosto muito de ti, tá?

p.s. correcção: gosto um bocadinho menos agora que vi a word verification.