terça-feira, março 24, 2009

Carta a um viajante emigrado noutro continente


Meu querido,

Sonho todos os dias com o frondoso navio que te apartou de mim, lentamente a desvanecer no horizonte.

Imagino que o teu regresso não tenha sido fácil.

Nunca tiveste o estômago para o alto-mar, calculo que o saco de papel e o balde tenham sido os teus melhores amigos, entre ondas e balanços repetidos.

É de preocupação que se enche o meu peito, quando recordo a tua cor esverdeada no primeiro passeio que demos. Recordas-te? Quando te levei a conhecer outros mundos que não o Kubo e o SushiRio. Afinal, Cacilhas, pode ser também a imagem de um paraíso, personificado pela singela e encantadora taberna, com cheiros no ar a cerveja e óleo de fritar demasiadas vezes queimado.

Como não haverias de recordar... Naquele momento, acreditei que te perderia alí mesmo, na calçada, no meio de todo o choco frito, ameijoas e panaché devolvidos pela tua garganta, a esforço.

Mas superaste. Fizeste-me prometer que nunca mais te levaria a tal jornada. O amor é mais forte e eu esqueci a lua de mel no Barco do Amor, com destino a Acapulco, com que sempre sonhei na minha infância longínqua. A casa da madrinha também foi agradável, se esquecermos o pequeno Miosótis, que uivava a toda a hora.

São duros os dias que passo sem ti. 

Fecho os olhos e vejo-te sorridente, nesse clima, nesses areais de uma terra ainda muito pouco povoada e por construir.

Vejo-te alegre a dançar aquelas Kizombas, que tornam as tuas ancas tão apetecíveis, com aquelas pretas concupiscientes, de carnes fartas, rabudas e lábios ávidos de pele branca.

É nessas alturas, meu querido, que dói. Dói-me a alma e o corpo. Dói-me o sexo. Não te quero ver com aquelas pretas e muito menos a dançar aquelas kizombas e mornas que dançávamos quando te perdias com o meu rabo.

Ainda te perdes, replicas tu. És um querido e um cavalheiro. De coração tão grande, que me falta a respiração quando me lembro no exacto momento em que o gritavas para que todos os vizinhos o soubessem.

Antes que me esqueça, no bolso interior da tua mala encontrarás uma bisnaga de pomada.

Sei que não é muito e não chega aos pés do salame da tua mãe, mas os mosquitos são gulosos, meu querido. 

O marido da minha prima foi picado e, de lá, retornou boçudo, emborbulhado de gosma e doenças que só aqueles pretos têm ou inventam, para correrem com os ingleses e americanos que lá vão atrás do petróleo. Mas os mosquitos não falam inglês, só distinguem a cor da carne, não te esqueças de espalhar bem a pomada.

Eu não te quero boçudo, meu querido. Não quero passar a vida a mudar pensos e emplastros cobertos de puz e encharcados da tua febre. Não aguento. Para isso, prefiro deixar-te e recordar-te como eras naquelas noites em que gritavas que o meu rabo era o melhor de todos.

Assim me despeço.

Com saudade. 

Não esqueças os meus pedidos. Não olhes para as pretas. E para as mulatas. É delas todas de quem mais tenho ciúmes. Sequer posso imaginá-las enroscadas em ti. Deleita-te antes nos banhos, nos mares, nas comidas e frutas tropicais. Tens ainda a RTP Àfrica e à RTP Internacional para apaziguar o desejo. Diz que resulta e vamos confiar.

Um beijo imenso.

14 comentários:

joao cadela disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
joao cadela disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Alexandra disse...

Minha cara,

Se há aqui alguém que não tem respeito, é você e, sobretudo, por si própria.

O que faz é deveras reles e baixo, independentemente dos motivos que, por ventura, possa ter. Mesmo que seja efectivamente verdade o que alega, tão somente se torna igual ou pior.

Resolva os seus problemas no foro próprio e de forma adequada.

Não é bem vinda aqui com esse propósito. Não tolerarei insultos e tentativas de denegrir seja quem for. Já a identifiquei. Se persistir, desencadearei as necessárias diligências.

Ana disse...

Eu ia comentar o post mas depois de ler a tua resposta a alguém retiro-me silenciosamente, crendo piamente que tu não vais dar por mim...
Um beijo

Ana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexandra disse...

Ana,

A minha resposta foi a uma pessoa que resolveu criar um blogue com a imagem de outra para a denegrir.

Veio aqui somente fazer insultos.

Podes comentar à vontade, está claro!

Ana disse...

Eu percebi Alexandra. Eu gosto mesmo é de dramatizar:)

Mozka Tché Tché disse...

Pé ante pé... sorrateiro, de solslaio... aqui entro.
Só mesmo para dizer que adorei este teu post.
Quanto ao resto, não há palavras.

Alexandra disse...

Ana,

Assustaste-me!

Beijinho

Mozka Tché Tché,

Eu só não gostei das senhoras concupiscientes.

Anónimo disse...

Ehhhh, Alexa!

Lá em cima falaste como uma verdadeira advogada!

Angelblue disse...

Alexandra não ligues ela quer é atenção e conversa, nem merece que se pense nela, ignora-a. O teu Blog é muito engraçado e venho aqui muitas vezes. Sabes o que disse Miguel Bombarda antes de morrer logo após ter sido esfaquiado por um louco?"-Por favor, não lhe façam mal, é um doente..." Pois claro!

Beijinho e tira um fim de semana para viajares até Africa ;)

Alexandra disse...

Anónimo,

Mas sou de pechibeque.

Angelblue,

Ligar, ligo. Faz-me rir e uma boa comédia não se encontra assim tão facilmente.

Obrigada! Ahahahaah!Estás a ver?

Para África seriam uns mesitos...

ELOQUENTE disse...

Olá bom dia, ou direi boa noite, pois são 4.10h e ainda não vejo o Sol de onde me encontro.
O teu texto é verdadeiramente delicioso, pela transparencia com que desenvolves o sentimento. Não conhecia o teu blog, mas vou tornar-me regular nas minhas visitas. Obrigado.

Alexandra disse...

Bom dia e Bem vindo!

Obrigada!