Os meus olhos cruzam a vidraça. Várias figuras percorrem o corredor. Os passos apressados são subitamente abrandados pelos olhares encantados pelo ritmo da aula. “Deve estar a chegar”.
- Ok. Mais uma. Esqueçam a coreografia. Sintam a música.
Inspiro profundamente, concentração. Solta-se a música. - Oito, sete, seis... - Relanço novo olhar através da parede de vidro. Era ele! “Ok, concentra-te! Sorri!”.
- ...dois, início! - Deixo-me levar. A música grita e apodera-se de todos os sentidos. Vibra, contagia, os corpos transpirados acompanham. Cada tempo seduz e comanda o meu corpo, que desliza, arqueia, ondula em movimentos mais ou menos vigorosos e alinhados.
Meio hipnotizado, observa através do vidro. Reduz o andar. Fito-o e sorrio. “É agora, concentra-te!” O estômago aperta. Ondulo a cintura, dois passos, deslizo, duas piruetas, arqueio as costas, pé atrás e... e... (desequilíbrio) BUM! Estatelo-me no chão como se não houvesse amanhã!
A música para. - Estás bem? – pergunta a sala em uníssono.
- Sim – respondo com um sorriso amarelado. O meu rosto deve estar ao rubro, com o calor que sinto nas faces... Massajo o tornozelo dorido, levanto-me e peço música. Repito tudo novamente, desta vez com menos paixão e com o aviso do tornozelo incomodado.
“Isto não me aconteceu!” Vinte e uma horas, arrasto-me para fora do balneário, revendo vezes sem conta a mesma cena patética. Desato à gargalhada. Vendo bem, teve muita piada!
- Então, num minuto estás a cair, no outro já estás a rir sozinha? – Levanto o rosto. Os mesmos olhos observadores. – Que queda! Estavas fantástica! Magoaste-te? Precisas de boleia? – Sorriso. “Afinal não está tudo perdido!”