segunda-feira, junho 29, 2015


Hoje, morreu o meu primeiro professor de dança. 

Aquele que me pôs a dançar Jazz (Eu sabia lá o que era Jazz. O meu corpo só conhecia o Hip Hop.), a fazer coisas mirabolantes com uns saltos altos calçados e não descansou enquanto eu não fosse para o Ballet ("Ballet? Com esta idade?", dizia eu mas lá fui completamente às escuras para uma aula com um ou outro principiante e um bom par de bailarinos russos. Fui atirada aos leões. Adorei.).

Sim, acabei de publicar um post "DEP", na minha página pessoal. Sei que parece parvo, sei que toda a gente goza com isso e o Miguel não vai lê-lo mas, mais importante, é a homenagem pública que faço. Se sempre conversei comigo e com os que não estão ou estão longe através da escrita, faz sentido sim. Seja num papel ou numa rede social.

Tive momentos verdadeiramente espectaculares graças a ele. Outros terríveis também. As confusões nas aulas (e fora delas) levaram-me a mudar de academia. Tardiamente e apenas porque os momentos muito bons foram absurdamente espectaculares e uma pessoa deixa andar, espera sempre que melhore ou se retorne ao antigamente.

Foi uma época tão intensa. Fiz grandes amizades. Fiz também falsas amizades, que se revelaram na pior fase da minha vida. Acima de tudo, aprendi muito. Fui infeliz? Algumas vezes mas ninguém me tira os outros momentos.  Os momentos de felicidade pura. Os momentos de aprendizagem. Aprendi tanto sobre mim. Deixei complexos pelo caminho. Cresci.

Não esquecerei o professor extraordinário que tinha o dom de pôr qualquer pessoa a dançar. Até a mais improvável. O professor absolutamente carismático e apaixonado pela dança que contagiava todos, sem excepção, com essa paixão.

Tanta coisa que nunca irei esquecer. Da minha parte, Miguel, nunca haverá bacalhaus (esticarei sempre os pés, por muito que me doam.), nunca marcarei nada. Será em grande e em Fullout. (Ainda ontem, no meu ensaio de Jazz fartei-me de pensar em ti e nisso.)

O Miguel era uma pessoa desconcertante mas tinha uma estrelinha invejável. Por muita asneira que fizesse, ninguém conseguia não adorá-lo. Zangas haviam muitas e eu, sincera que sou, zanguei-me várias vezes. Poucos foram os que conseguiram permanecer zangados e, felizmente, não fui um deles.

O Miguel tinha o dom de fazer-nos sonhar. De acreditar em nós. "Não consigo é palavra proibida". "Os limites existem na nossa cabeça." "O Ballet é lindo!" (Quando tudo dói.) Tantas vezes que repito essas palavras. A mim e aos outros. Caramba, quanto evoluí graças a isso.

Demasiado cedo. 46 anos.

Daí que este post é um DEP, sim mas é sobretudo uma homenagem pública. Absolutamente necessária e que devo ao Miguel e até aos poucos que, através do blogue, acompanharam todo o meu início e entusiasmo pela dança.

Que todos os momentos e ensinamentos que ficaram gravados na nossa memória se repitam e sejam celebrados cada vez que um aluno teu pise o palco.

Dia 11 ter-te-ei comigo.

5, 6, 7 e 8 Miguel
Muita merda


1 comentário:

Pulha Garcia disse...

Muito bonito. Vivemos numa sociedade que têm dificuldades em dizer obrigado, acho que por insegurança. Todos somos feitos por alguém, levamos os valores de alguém e aprendemos com alguém. Vivendo e aprendendo. Beijo açucarado. Ps bonita a tua paixão pela dança.