quarta-feira, maio 02, 2012

A propósito do Pingo Doce, post "Lê, engole e não vem baratinar"

Tenho lido tanta coisa absurda que só me apetece mudar de nacionalidade.

Juro, se pudesse, mudava de nacionalidade. 

Começa logo aqui. Uns, quando se exaltam, não dizem que matam, esmifram, dão três nós ao pescoço do vizinho? Eu mudaria de nacionalidade.

Ultimamente, não sei que raio de país é este. Que cangalha é esta. Cangalhada. Tenho vergonha. É o cada um por si, o salve-se quem puder, o pisa o outro tanto que podes, rouba o outro tanto que podes, é o se eu não tenho o outro que não tenha também. O pontapé nos princípios mais basilares.

Todo o episódio de ontem é absolutamente vergonhoso.

Desrespeitoso, sobretudo.

Da parte da empresa, das pessoas que acorreram e dos que clamam a "boa acção" para com os pobres portugueses. (Céus, acreditam mesmo que o Pingo Doce é a Santa Casa da Misericórdia? Que tiveram perdas?) Houve desrespeito sim. 

Da parte da empresa para com os próprios trabalhadores (Não venham com o argumento de terem sido pagos. Existe um direito ao feriado e os trabalhadores devem OPTAR se querem trabalhar ou gozá-lo. Muito menos com o da crise - Estou pelas pontas dos cabelos com esse argumento utilizado para achincalhar tudo e mais alguma coisa.). Perante um possível boicote a ir ao supermercado no dia 1 por parte dos cidadãos, a resposta foi bem nojenta. 

Da parte da empresa para com os cidadãos e os mais carenciados. É necessário que explique isto? Se sim, carregue no botão "use o cérebro".

Da parte da empresa para com o estado de direito. Dia 1 de Maio? A sério? Tantos dias para fazerem "boas acções" e escolheram o dia 1? Para com as normas, ou muito me engano ou aposto o mindinho em como houve dumping.

Da parte das pessoas que acorreram à chamada. (Antes passar fome e antes que venham dizer que não sei o que é isso, bem não sei, graças aos meus pais. Se não fosse isso, neste momento, saberia sim mas sei o que são muitas coisas, muitas outras coisas e como boa maioria, vivo no silêncio.) Que não respeitaram as outras pessoas, os funcionários, etc. Que não respeitaram a si próprias.

Da parte do Estado, tanto governo como presidente da República (Posso escrever com letra minúscula, posso?) Que estiveram a cagar-se (Bem, na verdade, é o termo mais correcto.) para tudo. Lá para o final do dia, após tantas queixas e indignação, a ASAE lá afirmou que ia averiguar.  Averiguar quando? Depois da acção estar completa? Logo uma entidade que é sempre tão ágil?

Tanto, tanto mais há a dizer mas isto não é um ensaio, não são palavras estudadas, é apenas uma repulsa por parte do meu organismo.

No meio disto tudo, fica um Primeiro de Maio muito negro, muito negro para a democracia, desrespeitoso para com todos os que lutaram pelos nossos direitos. Mais ou menos direitos, seja lá qual for a situação de cada um, são os nossos direitos. Se os teus não estão a ser cumpridos, reivindica-os. Não exijas que o do lado os perca também e muito menos, não desdenhes, não rejubiles com a perda deles. A sério, não sentem que estão a gozar convosco? Povo porco. Povo imundo. Povo estúpido.

Nota: Ai de quem venha para aqui levantar-me o chinelo. Não tenho paciência e pouco aprovarei qualquer democracia neste espaço.

21 comentários:

Izzie disse...

Gostava muito de saber se os funcionários receberam o extra a que têm direito por terem trabalhado num feriado, e se foram picar o ponto de vontade livre e sem qualquer coacção. E depois há a questão do dumping. Ou seja, fez-se tábua rasa de diversos princípios básicos. Se o PD quer mesmo ajudar quem tem necessidade, faça doações ao banco alimentar.

Ana das Pontas disse...

Diz que no Pingo Doce ao pé de mim a coisa foi mesmo mesmo feia. Imagina o cenário: Almirante Reis. Povo enlouquecido com os descontos. Multidão enraivecida a subir a avenida nos festejos do 1º de Maio. Não preciso de dizer mais nada, pois não? Tiveram de fechar a loja. :|

Vita C disse...

Bom, pois eu apesar de tudo sei bem o que é fome. Digo-o sem vergonha, vergonha é roubar, e era eu bem miúda e a minha mãe tinha 2 e 3 empregos para me sustentar a mim e ao meu mano. Havia dias em que comia uma papa cerelac e já gozava. E ontem não fui ao Pingo Doce, fui para a manifestação da CGTP. Porque trabalho, porque a minha mãe trabalhou, porque tenho amigos sem trabalho. E porque a crise ou lá o que é está a dar cabo dos direitos de toda a gente. Mesmo a que gasta balúrdios no PD.

Anónimo disse...

"Há um ditado popular do qual sempre gostei, segundo o qual, a melhor defesa é o ataque! E hoje assim foi: a promoção da Jerónimo Martins, em resposta às críticas dos sindicalistas no 1º de Maio, colocou os sindicatos em cheque. Reduziu-os à insignificância. E demonstrou à saciedade que as pessoas, antes de lutarem pelos seus direitos, lutam sim pela sua sobrevivência."

Ricardo Arroja in "O Insurgente".

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Só pra que conste... Duas coisas!

1 - Houve dumping! Não têm 50% de margem em todos os produtos, logo houve alguns que foram abaixo do preço de custo! E prová-lo tem que ser fácil porque há uma central de compras e aí é que estão as facturas. Não no próprio d supermercado.
2 - A haver multa, tem que ser igual para TODOS os supermercados! Como houve dumping, TEM que haver multa e não pode ser leve. Agora uma multa para cada supermercado multiplicado pelo número de supermercados... Algo me diz que a ASAE vai ter "lucros" no orçamento de 2012 à conta do Pingo Doce. É desta que o Jerónimo Martins vai prá Holanda de vez...

Isto seria o mundo perfeito. Agora aguardamos pelas cenas dos próximos capítulos!

Undisclosed Recipient disse...

Estou contigo! Leio-te sempre, raramente comento, mas espelhas os meus sentimentos. Não houve responsabilidade social por parte da empresa, houve um puro desrespeito, um aproveitamento da fragilidade do povo. E um desrespeito enorme pelos direitos adquiridos, pelo simbolismo do dia, por todos nós, por aqueles que não são patrões nem mandam em ninguém.

Nojo.

Piston disse...

Não fui às compras, ouvi falar da coisa mas só percebi o que aconteceu já a noite ia alta.

Mesmo que tivesse oportunidade não iria para aquela salganhada mas compreendo porque é que tantas pessoas o fizeram.
Os tempos não estão fáceis e para um restaurante em dificuldades, por exemplo, gastar 500 € e levar o dobro dos produtos é um desconto muito razoável e que justifica perfeitamente 3 ou 4 horas de espera. Quem diz um restaurante diz uma família. Há muita gente que não ganha 50 € por dia, porque é que não haveriam de perder umas horas a tentar fazê-lo?

Aquela parte do amor-próprio, de não esquecer a simbologia do 1º de Maio e não vergar perante um grande grupo económico é uma utopia que não está, para já, ao alcance deste povo.
Se nós não nos levantamos do sofá para votar...

E agora uma pequena reflexão: http://podcastmcr.clix.pt/download.aspx?file=/rcomercial/8A7P3BOW-3L1F-4S01-PIOT-CXQ377EN8KEP.mp3

Alexandra disse...

Izzie,

Nem mais!

Zaahirah,

Ainda bem.

Vita C,

Precisamente. Quem fala do argumento "fome" não é quem a passa. Uma vez ou outra, lá vou ao supermercado comprar um chocolate. Aqueles pequenos luxos. Uns compram Prada, o meu já é há algum tempo comprar um chocolate. Todas as vezes que lá vou, vejo várias pessoas a contar e recontar as moedas para pagar bens essenciais. Pouca coisa. Um saco de pão e pouco mais. Pergunto se estas pessoas tiveram oportunidade de aproveitar a promoção.

someotrainbow,

Quem ficou em cheque não foram os sindicalistas. Fomos todos nós. Isto não é lutar pela sobrevivência. Quando muitos direitos foram conquistados, a situação geral estava bem pior do que a nossa. Em vários países.

Ted,

Se o mundo não for perfeito, quero ver o PD a fazer esta promoção todos os meses.

Karvela,

Também leio sempre o Salsifré, há uma porradona de anos e raramente comento. :)

Piston,

Os restaurantes não fazem compras no Pingo Doce, a não ser em caso de urgência. Para isso, têm os mercados e os mercados abastecedores.

Quem mais precisa não pode largar € 100,00. Alguns sim, outros pediram emprestado. Ainda assim, a atitude da empresa é miserável em aproveitar-se dessa necessidade.

Repara, à parte do dumping, não tenho muito contra a que estas campanhas sejam feitas noutros dias. Aqui, foi claramente uma demonstração de poder sobre os próprios trabalhadores. Ontem ainda me responderam no Facebook que há muitos feriados e que somos um país pobre para se dar ao luxo disso. Curioso. Há muitos feriados para quem? Para os trabalhadores dos supermercados que até há uns anos gozavam somente o Natal, Ano Novo e 1º de Maio? Ganham mais? E o direito de escolha? As escolas e colégios que estão fechados nesse dia?

"Aquela parte do amor-próprio, de não esquecer a simbologia do 1º de Maio e não vergar perante um grande grupo económico é uma utopia que não está, para já, ao alcance deste povo."

Pois não. Por pura mediocridade. O povo que conquistou estes direitos, o sangue que foi derramado por um 1º de Maio foram de épocas bem mais austeras.

Piston disse...

Têm os MARL e afins mas ontem o Pingo Doce compensava, nem que fosse só para comprar água.

Só tinham que largar 50 €. Muitos dos que menos podem devem ter conseguido fazer tal esforço.

Alexandra disse...

Como referi, que os benfeitores ou salvadores repitam a proeza. Em qualquer outro dia. Talvez noutro feriado qualquer. Todos os meses.

Ou façam como a Izzie referiu. Doações ao Banco Alimentar.

Há coisas que não compensam nunca.

Mas, atenção, isto sou eu, que fui educada a evitar os supermercados aos Domingos e feriados, quanto mais assim.

A. disse...

Infelizmente esqueceram-se do que é o 1º de Maio. E é muito tipico o "se eu não tenho, tu também não tens".
Sei que muita gente aproveitou a promoção para fazer as compras normais, por menos dinheiro, mas houve muitos que foram apenas porque era uma promoção e então é preciso ir, gastaram dinheiro em coisas que provavelmente nem falta lhes fazem, mas enfim.

Só tenho pena daquilo em que o país se está a tornar...

Bluebluesky disse...

Yap. Tu tens toda a razão. Desiluidu-me muito este primeiro de maio, escrevi dois posts no meu blog a propósito disso mesmo e por isso não podia deixar de concordar com o teu.

M.M. disse...

Pois é, os empregados do pingo doce tiveram de trabalhar no dia 1... E com aquela loucura de gente. Realmente ninguém merece.

Só não te esqueças que na manifestação onde tu estiveste, e achas que todos deveriam ter estado caso sejam portugueses de qualidade, estavam policias a TRABALHAR para tua segurança.
Podes dizer-me "ah mas eles queriam lá estar!"
Será que queriam ou apenas tiveram de o fazer?

Jornalistas fizeram a cobertura do evento.. também trabalharam.
Pastelarias e cafés estiveram abertos e serviram muita gente que participou na manifestação.
Autocarros foram usados e neles motoristas contratados.
Vejam só se não é ironico!!

Alexandra disse...

MM,

É melhor voltar a reler o texto. Sobretudo o final. Não escrevi para virem para aqui com argumentos, ainda por cima, parvos.

Comparar a necessidade de um policia, um médico trabalhar num feriado com um funcionário de supermercado é no mínimo ridículo. A não ser que agora façam parte dos serviços essenciais e ninguém me tenha avisado.

Não se trata de um feriado qualquer, é o dia 1 de Maio.

Que eu saiba, os funcionários dos supermercados já só gozam o dia de Natal, o de Ano Novo e, bem, era também o dia 1 de Maio. Depois de se queixarem que foram obrigados (trata-se do direito de escolha consagrado no Código de Trabalho) a trabalhar, a escolha deste dia não foi inocente. Foi antes uma retaliação.

Ou, com 366 dias neste ano, o PD não poderia escolher qualquer outro dia para sua tamanha "generosidade"?

Depois, não se trata só do Pingo Doce, trata-se de todas as empresas que forçaram os trabalhadores a trabalhar. Mais uma vez, se os serviços não são essenciais, direito à escolha. Agora, este caso foi tenebroso.

Aqui o Pingo Doce não só os forçou como os submeteu a um dia de pesadelo, depois das denúncias que fizeram aos sindicatos.

Houve quem visse operadoras de caixa a chorar por não aguentarem mais. Não foi só aguentar o trabalho mas a selvajaria a que foram sujeitas.

Não achas isso perigoso? Num estado de direito? Uma empresa retaliar os funcionários dessa forma? Ai os sindicatos apelaram para que não se fizesse compras nesse dia? Ora toma! Que raio de mensagem fica para qualquer trabalhador, seja de que empresa for? Espalhar o terror? Obrigar as pessoas a sujeitarem-se a tudo sem poderem reivindicar direitos que são SEUS?

Ver a raça dos que acorreram enojou-me. Onde estamos? Que merda de país é este? Que vendem valores, direitos basilares a troco de 50%? Fora a falta de tudo que se praticou dentro daqueles espaços. Já vi filas de entrega de comida em países de 3º mundo muito mais ordeiras e pacíficas.

Mão me falem dos pobres pois esses não puderam participar. Não com o tecto mínimo de €50,00.

É o último comentário que respondo pois, como avisei no post, se nem na vida normal respeitam valores e direitos fundamentais, também não o farei aqui.

M.M. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Alexandra disse...

É melhor ires ao dicionário para verificar o significado dessa palavra.

S* disse...

Por acaso eu não concordo. Se acho que deviam abrir no 1 de Maio? Não. Mas se a lei lhes permite abrir, permite. A lei é que está mal. E se querem criticar por estarem abertos no 1 de maio, critiquem também o Continente, as bombas de gasolina, os cafés, os restaurantes... e todos os que abriram nesse dia. O Pingo Doce abriu, tal como os outros. Por aí não me parece que tenham pecado.

Os funcionários do Pingo Doce foram pagos como feriado, porque efectivamente o era. Isto significa que pelo menos receberam a dobrar. E nem todos trabalharam, quem estava de folga nesse dia não trabalhou (pelo menos uma leitora minha trabalha lá e diz que não teve de trabalhar). Os funcionários vão ter também 50% de desconto nas compras da próxima semana. Não me parece que estejam tristes por ter trabalhado. Podiam estar tristes por ter trabalhado no 1º de Maio? Podiam. Mas isso os do Continente e afins também podiam.

Agora criticar quem foi às compras? Essa aí é que não me parece ter nada a ver. Ninguém desrespeita os funcionários só por fazer compras, já que aconteceu o mesmo nos restantes hipermercados.

Alexandra disse...

É favor ler o post com olhos de ver.

As instruções estão lá.

S* disse...

Cara Alexandra, ninguém aqui baratinou. Se era só mesmo para ler, sem comentar, fechavas o post a comentários. Acho que não fui rude...

Alexandra disse...

Tens alguma razão, sim.