Há sensivelmente ano e meio, sexta-feira de manhã, com o calor ainda a marcar pontos em Lisboa, lembrei-me de ir jogar no Euromilhões.
Estive no vai não vai, não por ser idiotice mas, principalmente, por ter quatro euros e pouco mais na carteira, não mais do que isso na conta, o mês a findar, muitas insónias e as contas para pagar.
Sim, naquela altura já sabia muito bem o que era a crise. Não venham cá com tretas, sabia melhor do que grande parte de vós. Crise não é ir para a manifestação da geração à rasca e a seguir para a Moda Lisboa.
Adiante. Tinha um negócio recente, projecto da minha autoria, investimento também apenas meu, que é como quem diz que, naturalmente, tenho a vida "penhorada" no banco. Ou seja, mal ou bem, já não faço parte dessa imensa categoria de portugueses muito acomodados sob o sustento de outrem, ultimamente tão criticada lá fora. (O orgulho - Woooooooo! -Mas falhei, logo tenho muito mais direito aos dias "só me apetece atirar da janela", ok?)
Fiz tudo isso. Estudei o projecto durante um ano e tal, viajei, investiguei, fiz contactos, calculei o risco, dirigi-me ao banco e pedi um empréstimo e, por último, demiti-me do cargo "confortável" de coordenadora do departamento jurídico de um grupo de empresas. ( O nome era pomposo, a responsabilidade muito mais, as regalias nem por isso. Para todos os efeitos, era um trabalho, com contrato, não era mal pago - bem também não - e os sacanas que me davam cabo da cabeça gostavam de mim.). Atirei-me de cabeça, com o risco de ganhar algum ou perder tudo. Sem redes de segurança, sem subsídios, sem grande apoio da família (Estavam contrariados com a opção de largar o emprego "seguro".) Apenas mantive-me na casa dos pais, a fim de minimizar as despesas (O que já foi um suporte considerável, apesar das bocas e pressões constantes para desistir.).
Ora, onde ia? O Euromilhões.
Pois é, o Euromilhões.
Nunca fui muito destas jogatanas - odeio expectativas defraudadas, sobretudo porque sei exactamente o que faria ao dinheiro, ao contrário de muito boa gente. Quando aposto penso sempre no máximo, se é para pedir que saiba pedir, mas houve ali um momento especial.
Um momento especial em que só pensei que os meus quatro euros na carteira não chegariam para pagar a mísera conta da água. Que ganhar essa quantia já me faria tão feliz. Uns singelos vinte euros.
Ali fiquei a matutar, gulosa com a perspectiva, se valeria a pena sacrificar dois euros, isto é, um lanche, um bolo e um chá, por uns almejáveis vinte euros que me pagassem a conta da água. Caramba, se ganhasse a sério, esqueceria a ganância e doaria uma boa parte. Pensei nisto durante todo o dia.
E assim foi, apostei. Dois euros ali na papelaria junto às Amoreiras. Dois euros remanescentes na carteira para fazer durar sabe-se lá até quando.
Dois euros apostados que me renderam os tais vinte euros, sem tirar nem pôr, suficientes para pagar a parca conta da água da loja.
Não esqueço a felicidade, deveras comemorada, imediatamente levantada e entregue à EPAL.
Nas duas semanas seguintes, tentei repetir a proeza. Agora a conta da luz, agora o fornecedor. Em vão.
Até que já não se justificou abdicar do bolo. Abébias não aparecem todos os dias, meus caros.
Ou seja, portugueses do meu coração, esta mensagem é para vós.
Se esperam pelo D. Sebastião, se esqueceram que afinal os juros vão mesmo aumentar, o IVA vai mesmo aumentar, as dores mais ainda e não fazem a mínima como criar riqueza, até porque isso implica um esforço maior, maior do que esperar que a solução caia do céu sem sacrifício, antes joguem no Euromilhões.
Agora, sairá também às terças e com uma estrela a mais.
Eu, bem, eu, ficam já a saber.
Serei a primeira da fila, amanhã. Pode ser que não saiam vinte euros mas o suficiente para iniciar um novo projecto de vida, num país distante. Que me obrigue novamente a arregaçar as mangas à séria.
Se não sair, tenho bom remédio. Arregaço as mangas na mesma e faço-vos um manguito. Nada que já não tenha feito antes.
Beijinho fofinho
Com carinho
Alexandra
P.S. - Dêem os meus cumprimentos ao FMI e invistam em lenços. Vão precisar.
Estive no vai não vai, não por ser idiotice mas, principalmente, por ter quatro euros e pouco mais na carteira, não mais do que isso na conta, o mês a findar, muitas insónias e as contas para pagar.
Sim, naquela altura já sabia muito bem o que era a crise. Não venham cá com tretas, sabia melhor do que grande parte de vós. Crise não é ir para a manifestação da geração à rasca e a seguir para a Moda Lisboa.
Adiante. Tinha um negócio recente, projecto da minha autoria, investimento também apenas meu, que é como quem diz que, naturalmente, tenho a vida "penhorada" no banco. Ou seja, mal ou bem, já não faço parte dessa imensa categoria de portugueses muito acomodados sob o sustento de outrem, ultimamente tão criticada lá fora. (O orgulho - Woooooooo! -Mas falhei, logo tenho muito mais direito aos dias "só me apetece atirar da janela", ok?)
Fiz tudo isso. Estudei o projecto durante um ano e tal, viajei, investiguei, fiz contactos, calculei o risco, dirigi-me ao banco e pedi um empréstimo e, por último, demiti-me do cargo "confortável" de coordenadora do departamento jurídico de um grupo de empresas. ( O nome era pomposo, a responsabilidade muito mais, as regalias nem por isso. Para todos os efeitos, era um trabalho, com contrato, não era mal pago - bem também não - e os sacanas que me davam cabo da cabeça gostavam de mim.). Atirei-me de cabeça, com o risco de ganhar algum ou perder tudo. Sem redes de segurança, sem subsídios, sem grande apoio da família (Estavam contrariados com a opção de largar o emprego "seguro".) Apenas mantive-me na casa dos pais, a fim de minimizar as despesas (O que já foi um suporte considerável, apesar das bocas e pressões constantes para desistir.).
Ora, onde ia? O Euromilhões.
Pois é, o Euromilhões.
Nunca fui muito destas jogatanas - odeio expectativas defraudadas, sobretudo porque sei exactamente o que faria ao dinheiro, ao contrário de muito boa gente. Quando aposto penso sempre no máximo, se é para pedir que saiba pedir, mas houve ali um momento especial.
Um momento especial em que só pensei que os meus quatro euros na carteira não chegariam para pagar a mísera conta da água. Que ganhar essa quantia já me faria tão feliz. Uns singelos vinte euros.
Ali fiquei a matutar, gulosa com a perspectiva, se valeria a pena sacrificar dois euros, isto é, um lanche, um bolo e um chá, por uns almejáveis vinte euros que me pagassem a conta da água. Caramba, se ganhasse a sério, esqueceria a ganância e doaria uma boa parte. Pensei nisto durante todo o dia.
E assim foi, apostei. Dois euros ali na papelaria junto às Amoreiras. Dois euros remanescentes na carteira para fazer durar sabe-se lá até quando.
Dois euros apostados que me renderam os tais vinte euros, sem tirar nem pôr, suficientes para pagar a parca conta da água da loja.
Não esqueço a felicidade, deveras comemorada, imediatamente levantada e entregue à EPAL.
Nas duas semanas seguintes, tentei repetir a proeza. Agora a conta da luz, agora o fornecedor. Em vão.
Até que já não se justificou abdicar do bolo. Abébias não aparecem todos os dias, meus caros.
Ou seja, portugueses do meu coração, esta mensagem é para vós.
Se esperam pelo D. Sebastião, se esqueceram que afinal os juros vão mesmo aumentar, o IVA vai mesmo aumentar, as dores mais ainda e não fazem a mínima como criar riqueza, até porque isso implica um esforço maior, maior do que esperar que a solução caia do céu sem sacrifício, antes joguem no Euromilhões.
Agora, sairá também às terças e com uma estrela a mais.
Eu, bem, eu, ficam já a saber.
Serei a primeira da fila, amanhã. Pode ser que não saiam vinte euros mas o suficiente para iniciar um novo projecto de vida, num país distante. Que me obrigue novamente a arregaçar as mangas à séria.
Se não sair, tenho bom remédio. Arregaço as mangas na mesma e faço-vos um manguito. Nada que já não tenha feito antes.
Beijinho fofinho
Com carinho
Alexandra
P.S. - Dêem os meus cumprimentos ao FMI e invistam em lenços. Vão precisar.
12 comentários:
é só para dizer que - e isto não tem nada a ver com a crise - que aquilo do Ramone era a brincar. Não quero agora que penses que sou uma Cruella De Ville. Mas a ver se a malta se assusta e me arranja uma casa catita :)
Ahahaha!
Vamos lá ver então o que se arranja. :-)
Se ganhar o euromilhões vou comprar uma fábrica de lenços.
és tu que estás a voar como o super homem num fato de batman?
Isto é tudo muuito engraçado e muito bem visto, inclusive e sobretudo as aspas de roda do penhorar, sim, qu'isto agora anda sebáceo e acho que - infelizmente - vai haver muito boa gente a finalmente perceber a diferença entre empenhar e penhorar, mas há uma coisa que não me sai mesmo da cabeça: Onde é que se lancha por dois aérios?
Nunca jogo no Euromilhões, mas há 2semanas joguei e sempre que me vinham falar de mais um problema eu dizia convicta, não quero saber, sexta vai sair-me o Euromilhões, por isso... pfffff. E saiu mesmo! 9 euros. Deu para comprar pão a semana inteira, cada vez que abria a carteira e via lá a nota e depois só as moedas ria-me e pensava, para quantos % da população mundial é que este dinheiro seria uma fortuna? :)
Jedi,
E serás rico. Casar?
A,
As super-heroínas têm o dom do multitasking.
Bock,
No Pingo Doce, onde mais?
Dancemos no Mundo,
Naquela altura os vinte euros foram uma riqueza.
És terrível... Má!
Não. Casar está fora de questão. União de facto, talvez.
É certo e sabido: se o casamento fosse coisa boa, eles não pediam testemunhas*...
(*consta que já não pedem, mas isso é um detalhe sem importância)
Então mas vivias em casa dos teus pais e eles não pagavam a água?
Quer dizer...se assim como assim também deviam precisar dela, não é?
Ó anónimo, está lá. Da loja.
Verificação de palavras: Presswin
Não ganhei nada...
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