Era uma miúda espirituosa, com ideias bem feitas e a sensação de que podia e iria fazer o que quisesse no mundo.
Emancipada, actual, vanguardista, moderna, career woman, com ideias distintas do meu papel na sociedade e dos homens na minha vida.
O príncipe perfeito era um dado adquirido mas não um dado desejado, assim como quem diz, primeiro estou eu, como mulher independente e realizada, depois virás tu, um amor mais que certo mas efervescente, tu que me adorarás sem limite e respeitarás o meu papel, tudo se conjugará na perfeição sem me ver anulada, na vida, pela casa, os filhos e as frustrações. O amor estará sem abdicações.
O papel, talvez, o principal, não se espantem, era miúda e, na minha cabeça, tinha pela frente um enorme palco em silêncio só para me escutar, não por vaidade mas porque tinha mensagens importantes a passar. Eu sou indivíduo. Eu importo. Eu faço a diferença. O mundo é aquilo que fizermos dele. Vamos fazer.
Isto tudo para dizer que, não obstante ter mantido várias dessas características, ou mesmo confessando, várias dessas ousadias, não obstante toda a desilusão associada aos trinta, o que foi feito e o que falta fazer, a crise económica, a falta de sexo, o sexo em demasia mas sem amor, as amizades traídas, os novos amigos, o telejornal que há muito deixei de seguir, as frustrações, o que não depende de mim, os sem-abrigo que encontro a dormir na entrada de uma porta qualquer (mas sempre a mesma) no caminho que faço todos os dias ao sair da academia de dança, o que aprendi, não obstante tudo isto, eis que surge, novamente, a sensação de poder, eu serei o que quiser.
Não há nada como arrumar, começar de novo é possível.
Nunca de novo.
Está bem, um novo fininho, de leve.
Bem, não era bem isto que queria dizer.
O que quero dizer é que o amor não é assim. Essa criança estava errada. O amor (o verdadeiro, i.e., por definição, no amor não há controlo, meaning o amor incondicional) não tem reservas (Correndo o risco de parecer ridícula, lírica ou ultrapassada, não é cliché, é a pura das verdades).
Por isso, se efectivamente existe, não há mas nem meio mas, largo tudo, mudo de continente, não me mudo de continente, ou, vendo bem as coisas, adio decisões (quem parte hoje pode muito bem partir antes amanhã).
A vida é para ser vivida não para ser preenchida de "e se's?".
Por conseguinte, o "e se?" lá teria sido muito maior, desgastante e infeliz do que um hipotético "e se?" cá.
Sendo assim, prolongo a Lisboa soalheira, os lanches no Atrium ao som do piano mesmo antes da aula de ballet, prolongo-o.
Melhor dizendo, aviões a partir existem a toda a hora.
Gosto de aeroportos assim como quem gosta de emoções. (Alguém já viu um aeroporto destituído de emoções?)
Só decidi começar pelas segundas.
10 comentários:
Ainda bem que ficaste... já tinha saudades (muitaaaas) de te ler!
Boa sorte neste (re)começo!!
Beijinhos,
Vi
Resumindo: a "nossa" Alexandra está de volta! :) (olha para mim já a privatizar-te!)
E no entretanto:
http://easfadastambemseenganamnocaminho.blogspot.com/2010/01/ha-dias-assim.html
Heheheh!
Estava na paragem do autocarro, de um lado um velhote com a sua senhora, do outro o placar da TAP, a viagem aos Estados Unidos. E eu ali no meio, a pensar nos se´s da vida. Quando um amigo me liga e me faz ir apanhar o metro.
Tu vales a pena.
Já tinha saudades dos teus posts. :-)
Violet,
Obrigada!
Beijinho
Zaahirah,
A pouco gás, preciso de oxigénio para queimar.
El Guru,
Ahahahah!
Siceramente,
Os ses, os ses, os ses, é atirar os dados, fechar os olhos e esquecer os outros caminhos possíveis.
Piston,
Uiii! Medo!
Kitty Fane,
:-) Sãos também as fases em que apenas apetece a escrita no caderno. Ando uma reader ao invés de uma blogger.
Beijinho
Gostei do texto.
Boa sorte !
eu para aqui ando pelas mesmas razões.
Camila,
Obrigada.
A,
L'amour...
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