segunda-feira, agosto 17, 2009


Este ano não foi fácil, com tamanhas façanhas que me propuz cumprir, muito gosto eu de aumentar a fasquia, esticar a corda, caminhar sobre ela sem rede de segurança ou cavalheiro que me ampare a queda nos seus braços.

Ainda há poucos dias, senão ontem, jurava que pouco me restava, ansiava por pausas, por espreguiçadeiras ou sabe-se lá mais o quê onde pudesse largar os braços e o corpo que já protestava, se protestava.

Sustive a respiração até vislumbrar a luz da superfície, são coisas a mais, até para mim, preciso mesmo de fazer quase nada, de não pensar, melhor, não acordar a meio da noite com a lista de coisas por fazer ou com as preocupações, com as preocupações, as ideias, os "ses" e os temores dos "ses". O queixume é sempre o mesmo e até eu me farto dele.

Agora, que deveria descansar, agora, que está tudo calmo, que terminou a azáfama, o trabalho pouco aparece, nada de dança, nada de desafio aqui ou convite para projecto ali, agora que tudo repousa, que não me sobram ideias ou dinheiro para executá-las, não me apetece repousar a mim, adio férias, semana a semana, e muito me enfado, cada inspiração é feita a custo, pesarosa, malfadada de tédio, a expiração sai como um repelir do que cá vai. Do que cá vai que não é pouco.

Já sei, deveria pegar em mim e partir de férias, como repete quem me rodeia, cada um deles e outros, a consciência e até o médico que já se impôs ao barulho. Pegar na mala e ir.

Pois, com tanto enfado, com tanto suspiro mal sustido de aborrecimento, de falta de algo que me dê alento, sei, perfeitamente, que, se pego nela, parto e não regresso.

O espírito nómada está-me na alma e bem sei que esta brincadeira de menina estabelecida e composta tem muita piada mas, mais tarde ou mais cedo, virar-se-à contra aquilo que sou. Ou ao contrário. Sou boa demais a virar as costas a tudo.

Desta feita, por enquanto, espreito apenas as agências. Para a semana espreito Barcelona, vivo a civilização, todavia, sonho com solos virgens e vegetação robusta.
Filmes e livros a mais em criança, foi no que deu. Um cérebro demasiado imaginativo e sedento do desconhecido.

Não é a Europa que me apetece. É a terra calcada apenas por pés descalços, uns mais feridos que os outros.
São páginas por escrever.

Ver documentários sobre o Rio também não ajuda. Bela asneira acabei de fazer. Raios parta aquela cidade que me ficou no goto, nas entranhas e nos sentidos. Devo mesmo gostar de coisas imperfeitas, desregradas e sujas, do calor à noite, do cheiro a sexo ou da insinuação ao mesmo, da música pelo corpo, do corpo pela rua. Da gargalhada descarada e solta. Do menino de sunga.

Férias não me apetecem. Apenas lançar-me por aí. Sozinha.

Por enquanto, vou enfadando-me.
Com cada respiração.
Uma a uma.
Tal como tudo o que me rodeia me aborrece.
Assim, como quem diz "Cá vou me aguentando."
Controlando meticulosamente cada golfada de ar.
Não vá o diabo tecê-las e costurá-las.
Ar a mais puxa pela liberdade.
Mas as gaiolas são tão confortáveis.
Pássaro na gaiola não apanha chuva.

8 comentários:

Textículos disse...

Dá-lhe com a alma, não desanimes.
Beijos, diverte-te sff...
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Textículos

Alexandra disse...

:-)

Preciso mesmo de inventar algo novo. É só isso.

Obrigada.

Sairaf disse...

Somos mesmo seres insatisfeitos... :)

Se calhar chegou o momento de mudar de ares, ou então procurar novos objectivos/desafios.

Beijo :-)

Alexandra disse...

É verdade.

O meu problema é mesmo não saber parar. :-)

Piston disse...

É possível um rapaz não se apaixonar por vossa excelência?

Inventar? Que tal um bébé?

Alexandra disse...

Apaixona-se facilmente, você.

Um bébé? Mauuuuu... Queres que corte os pulsos, não?

Piston disse...

Já tinha um de parte para ti...
Sendo assim volta para a arca.

Alexandra disse...

Ahahah!

Recheado?