sexta-feira, julho 14, 2006

Noivas de Santo António, São João, São Pedro, Santa Bárbara leva a trovoada!

Este ano tenho tido tantos casórios que não posso evitar falar sobre o tema. Haverá coisa mais absurda que os casamentos hoje em dia?

O mote é o "inesquecível". Vem o inesquecível e estraga-se tudo. E a culpa é da educação e da própria sociedade. Ai, não??

Anos a fio a impigir bonecas, carecas, chorões, loicinhas e fraldas, histórias da cinderela e da branca de neve... Mas alguém já percebeu que o príncipe de hoje em dia ou é gay ou vai para a cama com a madrasta???

À conta do inesquecível, surgem as mais diversas atrocidades que nós temos de gramar e afirmar em voz alta e de pés juntos que é tudo muito lindo, maravilhoso, ohh que felicidade!

Refiro-me aos convites que, para serem inesquecíveis, revestem formas de dar volta ao estômago do bom gosto, aos presentes dos noivos aos convidados (que não servem para nada), aos pequenos (mas grandes, se não repararmos despertam-se fúrias de durar a eternidade) promenores e a todas as pinderiquices que inventam para dizer que o dito casório foi diferente dos milhares que se realizam todos os anos.

Não há paciência!

E os noivos que esperam, anseiam, desesperam pelo dia, mal pregam o olho e de manhã já têm o fotógrafo em cima, toma lá que levam com ele todo o dia, tudo para retratar o dia que mais facilmente recordarão (nunca assumidamente, isso nunca!) como a seca de sempre.

É o ramo da noiva que agora até já são dois, um para atirar e outro para guardar de recordação (ou não se atira, existem agora modalidades bem mais originais, entenda-se descabidas), o vestido pindérico a imitar o merengue do bolo da avó, o cabelo cheio de laca a envergonhar a Torre Piza, e por aí adiante.

Vá de aturar as tias, personagens que nem nos lembramos do nome, sobretudo todos os que já passámos dos vinte, "A menina é para quando? Não tem namorado? Olhe que já está na idade!" E esboçamos 1 sorriso tirado a ferros e, com algum humor, replicamos "Não! Alguém aqui tem que ter juízo!"

Depois o repasto, tudo com nomes pomposos, para acabarmos enjoados com o sabor (ou ausência deste) agridoce das iguarias. O enfardanço dura o dia inteiro e nem uma semana de aeróbica ou passadeira intensiva conseguirão enganar a balança ( e pior, a roupa).

E o bailarico? Nada melhor que dançar com o tetra-avô do cunhado da irmã da noiva, e se for a valsa já não é nada mau! Até me arrepio se oiço "apita o combóio", "nós pimba" e "é só à estalada". Só à estalada é esta gente! Tudo maravilhado, para no final do dito casório comentarem os horrores, as gaffes, o mau gosto, o excesso, a falta. Não dá!! "Então, tão novinha e não vai dançar?!" Mas alguém aqui está a dançar??? Um já está de gravata na cabeça e, com sorte, estão a fazer um combóio e nós... olha, nós batemos palminhas, sorrimos e pedimos desculpa ao estômago!O que é que querem?! E agora já lhe juntam o karaoke (onde é que puz o raio dos tampões para os ouvidos, que dor de cabeça e o tempo tão bom para a praia...).

À conta do inesquecível, vêm os bolos rodeados de tipos emcapuçados empunhando tochas, com direito a foguetes, ( e bolo paraquedas, não?), filmes dos noivos, fotos dos noivos ( por este andar apanham um enjoo um do outro, de tanto ver o quanto estavam destinados)... Agora até existe uma nova modalidade fotográfica que consiste em, depois do casório, voltar a envergar os trajes nupciais e ir para a praia, molhar os pés, pescar, dar cambalhotas na areia, tudo ao ritmo dos flashes, tudo para mais tarde recordar...

Os passos são ultra ensaiados para depois o padre gagá dar um sermão absurdo, o padrinho se esquecer das alianças ou fazerem piadinhas na hora do "alguém tem algo para dizer, que fale ou que se cale para sempre". Se um dia eu perder a cabeça, salvem-me nesta deixa, tá???

Enfim, uma excelente forma de queimar o dinheiro dos pais ( se bem que eu pensaria em inúmeras melhores), para mostrar a sumptuosidade de uma relação condenada para dois ou três anos de existência. É eles divorciados e ainda a pagar o casamento...


Se nos próximos tempos não puder fugir ao suplício, aproveite as dicas:

i) Se não quiser tornar-se numa persona non grata para todos os eventos dos seus amigos ou familiares, nos próximos 150 anos, nada de inventar desculpas para não ir, chegar atrasado ou escapar-se para o futebol.

ii) Quer haja ou não bar aberto, faça-se amigo do barman, pois o dia é longo. Se o tipo for antipático, pense sempre que é um bom investimento e prepare-se para largar metade do ordenado em bebida. Se no outro dia não se recordar de nada, então terá valido a pena.

iii) Quando atirarem o ramo de flores, agache-se, fuja, faça o que entender mas repudie as flores!!

iv) Pastilhas Rennie e Valdispert ou Xanax.

Também existe aquela teoria do melhor é impossível, levas com a festa e depois é sempre a descer...

E os sonhos das jovens raparigas ficam por aqui, em vez do príncipe e do palácio, dão de caras com o lava-loiça, as contas por pagar e a secretária do marido(que provavelmente é toda boazona, solteira e tem peito para encher e sobrar no escasso tecido da blusa)...
Este ano ainda tenho dois pela frente... Ufffff!

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda me lembro tão bem quando te diziamos que havias de ser a primeira de nós a casar. E tu lá replicavas, batias o pé e torcias veementemente o nariz. Sim, já começamos a perceber que vais dar em solteirona, mas sem dúvida que serás a solteirona mais gira, boazona, animada e inspiradora do mundo!O verdadeiro desperdício! Ou não. Se for para conservar essa miúda reguila com magia nos olhos, faço questão de afugentar todos os príncipes!

Adoro-te princesa. Mexes com o nosso mundo, dás pimenta e sabor aos nossos dias.

Anónimo disse...

Pois... eu fui a 1ª! Mas tu és 1 parva. Davas 1 noiva linda!

Beijos

Raquel