domingo, fevereiro 24, 2008

Um peixe chamado Alexandra


Morena, franzina, perninhas fininhas a nadar dentro da mini saia. Um corpo de criança. Olhos expressivos, sorriso do tamanho do mundo. Ou seja, nada que pudesse despertar a atenção de uns putos de quinze anos. Peito escasso ou inexistente, um rabo redondo mas ainda infantil. Devia ter uns treze anos. Naquela altura só queríamos saber de gajas, peitos e surf. Bem, agora também. Mas a Xaninha já é mulher.

Recordo-a ao fim do dia, na praia da marina, com uns mini calções de ganga, cortados de umas calças. Um jeito tímido de mulher num corpo de traquinas a segurar um gelado da Veneza. A miúda.

Há pessoas que nos entram na vida sem pedir licença e depois não sabemos viver sem elas. A Xana tem maneiras peculiares de o fazer.

Nesse dia em que a conheci, estava um final de tarde fabuloso. Na praia da marina, o grupo do costume: Hugo (Guigas), Migas, Pêpê, Manu e Bráulio. O outside estava completamente morto, pelo que descansávamos em cima das pranchas, entre conversas de putos. Quem surfava melhor, as miúdas, quem ia curtir com quem, as motas novas. A praia quase deserta e o mar só para nós.

De repente, assim do nada, aparece uma miúda no meio do mar. Devia ter uns pulmões de aço, a catraia, para mergulhar tanto tempo e aparecer ao pé de nós. Percebe que nos pregou um susto e desata-se a rir. Primeiro discretamente, depois com gosto. Ri, ri, a boiar nas ondas.

Recuperados, pusemos-nos no gozo.
- É uma sereia!
- Deixa-me agarrá-la, para ver se tem rabo de peixe!
- É minha!
- Vou pô-la num aquário...
- Não, eu é que a apanho!

Furiosa, não se deixou ficar e chamou-nos (nunca me esqueci) surfistas da banheira. Acrescentou que não precisávamos de cabelos compridos e loiros para sermos surfistas e que surfistas a sério só na Ericeira. Murro no estômago, isto é, na nossa confiança de machos viris do surf.

No meio do bate boca e da confusão das pranchas, o Miguel tentou agarrá-la, sem sucesso, pois a miúda desferiu um valente murro que lhe deixou o olho negro.

Escapou-se a correr para a areia, novamente motivo de gozo.
- Não é uma sereia, é a Olivia Palito!
- Alguém lhe dê espinafres!

Nessa noite, na marginal, voltamos a vê-la com as amigas. Fez má cara. Era a primeira miúda que nos ignorava. Conquistou-nos.

O Miguel apaixonou-se, eu ganhei uma melhor amiga. De ideias mirabolantes, aventureira, sempre com novas invenções, coisas para fazer ou experimentar, madrugadora, TEIMOSA, chata. Ao lado dela, nada era (é) monótono. Para além disso, tinha a mania de pedir as minhas calças Quiksilver largas emprestadas, que pouco a favoreciam, considerando o excesso de tamanho.

Nas terras mouriscas, ainda hoje se recorda, com saudade, o dia fatídico em que as ditas calças escorregaram-lhe pelas pernas abaixo, precisamente quando andava de patins na marina, fazendo com que, de rabo ao léu, embatesse num turista alemão, derrubando-o e quase caindo para dentro da àgua.

Um homem não pode (consegue) ter amigas. Assim, digo a todos que és minha irmã. Muito haveria a escrever. Mas como não quero passar por roto ou sentimentalista, deixo-te apenas um beijo enorme de obrigado.

Aos leitores, apresento as minhas desculpas. Se tiverem paciência, para a próxima, contarei algumas aventuras ou desaventuras da Xanocas. Os podres, os segredos, as tropelias todas. Bem, nem todas. Já sabem como ela é e eu prezo muito a minha integridade física... Se calhar é mesmo melhor ficarmos por aqui... Bem, vou mas é andando!

sábado, fevereiro 16, 2008

sábado, fevereiro 09, 2008

A pacífica

Pensem comigo. (Este foi o meu Sábado)

Uma hora e meia de Jazz: meia hora de preparação física (abdominais, força e flexibilidade), meia hora de técnica (saltos, piruetas, degolés e afins) e meia de coreografia.

Uma hora e meia de ballet - sem barra (!!!)(dor).

Uma hora e meia de Jazz: uma hora de preparação física (abdominais, abdominais, abdominais, força pernas, abdominais, flexi-au-au-bili-ui-ui-dade) e meia de coreo.

Uma hora e meia de ballet (dor, dor, dor - o raio da dança é antinatural e é tudo menos o que parece. Estou levezinha? Pareço. Mas a contrair abdominais, pernas, aperta as pernas, estica as pernas, o pé e os tendões a queixarem-se, força, força). Sorte a dos pinguins que têm os pés em en dehor.

O meu professor de ballet diz que a dança é capacidade de sofrimento. Se dói, é porque estamos a fazer bem.

Literalmente, acreditem.

O tipo dormia com os pés atados à cama em en dehor ("um quarto para as três").

Sair a desfalecer da academia, depois de um dia inteiro sem ver o sol.

A arrastar os pés até ao metro.

Chegar a casa, cair no sofá e, cinco minutos depois, sonhar que estou no Brasil a dançar esta música. A tarde toda. Pela noite dentro. Até o sol nascer.

Já chegava, não?!!!

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

A propósito de S. Valentim, casamenteiros e afins


Dançar e fazer surpresas.

São as duas coisas que mais me deixam feliz.

A imaginação, a preparação, os sorrisos arrancados. Adivinhar desejos. Concretizar sonhos.

Simplesmente, adoro surpreender.

Quando estou a preparar alguma, ando uma semana com um sorriso de orelha-a-orelha, empolgada.

Em Dezembro, inscrevi-me (FINALMENTE!) numa academia de dança. À séria.

Desde então, saio das exigentes aulas leve, a sorrir, feliz. Tão feliz.

Com vontade de regressar a casa aos saltos e piruetas. Grands jetés perfeitos na calçada, por entre os transeuntes. Caminho em meias pontas, quase a beijar as estrelas.

O brilho transpira.

Sinto que as pessoas o vêm, quando passo. O invejam.

É algo indescritível. Muito superior a mim.

Dançar é mais elementar do que comer, dormir, respirar. Do que sexo.

Quero dançar até morrer. É o meu alimento. O meu alento.

Acredito que, no dia em que deixar de o poder fazer, o meu coraçanito parará de tristeza.

O corpo murchará e render-se-á à evidência da morte. Numa súplica.

Por enquanto, apetece-me substituir os passos de quem caminha por grands jetés retournés, por passadas gingadas ou graciosas.

Sensação assim próxima só um grande amor. Daqueles raros, que nos arrebatam e viram de pernas para o ar.

Mais facilmente sinto as borboletas, as reacções de teenager, o peso pluma entre acordes e compassos acompanhados pelo corpo do que por um homem.

Dizem que na vida só existe um grande amor. Um verdadeiro amor.

Eu já o encontrei.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

All you need is love...errrr... NOT!


Ahhh, a uma semana do dia dos namorados…

Mal posso esperar!

Sair a correr do escritório.

Passar em casa, tomar banho, arranjar-me, perfumar-me. Vestir lingerie nova.

Esperar que ele chegue, cobri-lo de beijos, de cartões e presentes.

Porque é obrigatório, ir jantar fora, juntamente com outros tantos pares lisboetas, num ambiente propositadamente criado para uma ode ao amor.

Filas de amor nos restaurantes apinhados. Receber rosas à porta, jantar de mãos dadas, entre sorrisos e frases cor-de-rosa. Assistir a um espectáculo, passear junto ao rio, de mãos dadas. As ruas repletas de casais. Balões cor-de-rosa, corações, chocolates, flores. Casais, todos muito apaixonados, ou pelo menos esforçados para tal. Casais, casais, casais. Elas, todas de ramo de flores nas mãos.

Mal posso esperar!

NOT!

Vejamos,

Comemoração de datas impostas (e estrangeiras, que nada têm a ver com a nossa tradição).

Números insuportáveis de casalinhos por metro quadrado.

Corações por todo o lado.

Versos e frases idiotas por todo o lado.

Decorações foleiras.

Receber flores sem ser num vaso, pior, rosas!

Declarações e juras, quando no dia anterior discutiam pela falta de atenção e desleixo.

Filas, filas e filas, sorrisos imbecis, olhares como se fosses um E.T. se andares sozinha.

Todos os anos em que tive namorado simulei gripes fortes para escapar ao infortúnio, com sucesso garantido.

É na data em que mais me apetece bradar aos quatros ventos e exultar felicidade dizendo “Eu não tenho namorado!”

E não tenho!

O que vou fazer? Aulinha de dança e ensaiar a coreografia magnifica do Chicago! Yuuuuuupiiii!

Já estou a ver as minhas amigas a pedinchar "Querido, vamos só um pouco mais tarde...", só para, naquele dia, conseguirem pôr os pézitos no ginásio.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Why the chicken cross the road?


Aqui há uns dias, ia a sair do escritório para a minha hora de almoço tardia, quando vejo um homem giríssimo a sair do edifício da empresa.

Esfrego bem os olhos. Alto, muito moreno e rosto vincado, alegre. Muito giro mesmo. Ar saudável. Ar de mar. Ai, gosto!

Coração aos pulos. Molho o lábio superior. Hora do almoço? Fome?

A atravessar a estrada e a torcer-me para olhar para trás.

- Será que saiu mesmo da empresa? Será o novo Director de RH? Isso é que era!

Torço-me ainda mais.

Sem olhar para a estrada. Por pouco não embati numa velhota de muletas.

Que vendo o quase choque, arrepiou o pelito da verruga e rogou quatro ou cinco pragas, uma delas envolvendo abstinência sexual.

De boca aberta a tentar perceber para onde o adónis seguia.

Erro crasso.

Porque enquanto divagava e olhava para trás, o sinal do cruzamento abriu.

Os carros a arrancar a alta velocidade.

As chapas de encontro ao meu frágil corpinho.

Alexandra, a maçãzinha de William Tell.

Sem perceber.

Pois os olhos e a cabeça estavam toldados pela imagem do varão belezudo.

Barulhos ensurdecedores de travagens.

Foi bonito.

Muitos jogos de cintura para me desviar e buzinadelas que acordaram a rua inteira.

Rapaz saudável a olhar para trás.

O pessoal da empresa à janela para ver o que se passava.

Corrijo, a rua inteira a olhar para ver o que se passava.

Alexandra, finalmente acordada, num tomate. Beringela. Cove-rôxa!

De rabinho encolhido, escondo-me, agachada, atrás dos automóveis para não ser reconhecida.

Arranco o jornal ao bêbado que está sempre na esquina e cubro a cabeça.

Vinte minutos de estômago a dar horas escondida atrás dos ditos.

Três dias depois, vou a sair da minha sala e baque.

Corações cor-de-rosa. Passarinhos chilreantes esvoaçam à volta da minha cabeça. In-love. Alexandra in-love.

Era o moço.

- B******, já conheceu a Dra. Alexandra? É a coordenadora da DAJ. Alexandra, Este é o novo DRH.

Coloca um sorriso aberto e diz:

- Ahhh, parece-me que a conheço de vista…

O sangue acorre às faces.

- Humm... Não estou a ver.... Olhe que eu não esqueço uma cara. - Disfarço.

Acordado com a lâmpada luminosa ao lado da cabeça, responde:

- Conheço, sim!

- Olhe que não! - Baixo os olhos, tremelico o queixo a medo.

- E você também me deve conhecer. No outro dia, até estava a olhar para mim com ar de quem conhece! Gerou cá uma confusão digna de filme americano! - Pisca o olho.

Era o que mais me faltava. Além de giro é chico-esperto.